Vaticano: «Que a justiça, o diálogo e a fraternidade possam substituir a ilusória segurança das ameaças de destruição» – Papa Leão XIV

Audiência-geral convidou os peregrinos a refletir sobre a palavra «preparar», alertou para as «ilusões que distraem» e sublinhou que «gratidão, disponibilidade, perdão são lugares onde Deus habita»

Foto Lusa

Foto LusaCidade do Vaticano, 06 ago 2025 (Ecclesia) – O Papa Leão XIV lembrou hoje a “devastação” que a guerra e as armas nucleares causam e pediu que a justiça, o diálogo e a fraternidade possam substituir a “ilusória segurança criada pelas ameaças de destruição recíproca”.

“Apesar de passarem os anos, os trágicos acontecimentos (do bombardeamento de Hiroxima e Nagasáqui) são um exemplo da devastação causada pela guerra e, em particular, das armas nucleares. Desejo que no mundo contemporâneo, marcado por fortes tensões e sanguinários conflitos, a ilusória segurança criada pelas ameaças da reciproca destruição, dê passos para instrumentos de justiça, prática do diálogo e à confiança na fraternidade”, pediu o Papa durante a audiência geral na Praça de São Pedro, quando se dirigiu aos peregrinos em língua italiana.

Os bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, decorreram entre os dias 6 e 9, durante a II Guerra Mundial, em 1945; estima-se que 140 mil pessoas tenham morrido no primeiro ataque atómico, contra Hiroxima, a 6 de agosto de 1945; três dias depois, forças norte-americanas levaram a cabo um segundo bombardeamento, em Nagasáqui, que causou mais de 70 mil mortos.

Milhares de pessoas viriam a sofrer as consequências da radiação, até à atualidade, e o Papa quis, na audiência, lembrar as vítimas que ainda hoje “vivem os efeitos físicos, psicológicos e sociais”.

Na Praça de São Pedro, Leão XIV convidou os peregrinos, muitos ainda participantes do Jubileu dos jovens que terminou no dia 3, a refletir sobre a palavra “preparar”, “aparentemente simples” mas guardadora de “um segredo precioso da vida cristã”.

“Antes mesmo de percebermos que precisamos de ser acolhidos, o Senhor já preparou um espaço para nós, onde nos podemos reconhecer e sentir seus amigos. Esse lugar é, em última análise, o nosso coração: uma ‘sala’ que pode parecer vazia, mas que apenas espera ser reconhecida, preenchida e protegida”, assinalou.

O Papa explicou que o amor “não é fruto do acaso”, mas resulta de uma “escolha consciente”: “Não é uma reação simples, mas uma decisão que exige preparação”.

“Jesus não enfrenta a sua paixão pelo destino, mas pela fidelidade a um caminho que abraçou e percorreu com liberdade e cuidado. É isso que nos consola: saber que o dom da sua vida vem de uma intenção profunda, não de um impulso súbito”, explicou.

Leão XIV refletiu sobre as “ilusões que distraem”, ao contrários dos “preparativos, que orientam”.

“As ilusões procuram um resultado, os preparativos tornam possível um encontro. O verdadeiro amor – recorda-nos o Evangelho – é dado antes mesmo de ser correspondido. É um dom antecipado. Não se baseia no que recebe, mas sim no que deseja oferecer”, afirmou.

“Cada gesto de disponibilidade, cada ato gratuito, cada perdão oferecido antecipadamente, cada dificuldade aceite com paciência é uma forma de preparar um lugar onde Deus possa habitar”, acrescentou.

O Papa convidou os peregrinos a questionar-se sobre a sua “preparação pra acolher o Senhor”: “Que espaços da minha vida preciso de reorganizar para estar pronto para acolher o Senhor? O que significa ‘preparar’ para mim hoje? Talvez signifique renunciar a uma exigência, deixar de esperar que o outro mude, dar o primeiro passo. Talvez signifique ouvir mais, agir menos ou aprender a confiar no que já foi predisposto”.

“Se aceitamos o convite para preparar o lugar da comunhão com Deus e uns com os outros, descobrimos que estamos rodeados de sinais, encontros e palavras que nos indicam aquela sala espaçosa e já pronta, onde o mistério de um amor infinito, que nos sustenta e sempre nos precede”, indicou.

No final da audiência, o Papa saudou os peregrinos de Portugal e do Brasil.

“Ainda com os extraordinários acontecimentos do jubileu dos jovens na memória, continuemos a rezar para que o espirito santo possa predispor o coração de tantos jovens ao anúncio do Evangelho”, finalizou.

LS

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