Vaticano: Presidente da CEP diz que despedida de Francisco deixou «desafio» aos líderes mundiais

Missa em memória do Papa vai ser celebrada em Fátima, após início da Assembleia Plenária

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 27 abr 2025 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que as celebrações fúnebres do Papa Francisco deixam um “desafio” aos líderes políticos mundiais que estiveram presentes no Vaticano.

“Ou nos entendemos ou destruímos tudo isto. Para as pessoas e líderes mundiais que estavam aqui, fica um desafio”, referiu D. José Ornelas, em entrevista às agências ECCLESIA e Lusa.

O responsável católico participou, este sábado, na Missa exequial do Papa Francisco, que decorreu na Praça de São Pedro.

Para o bispo de Leiria-Fátima, é necessário conservar o legado de diálogo inter-religioso do pontífice argentino, que criou “uma cultura de paz e de entendimento”.

“Aquilo que o Papa disse é uma cartilha para a humanidade, porque não estamos a falar simplesmente de temas eclesiais. Mesmo o caminho da sinodalidade para a Igreja, que é evidentemente um tema eclesial, esta forma de ser Igreja, é mais do que isso, porque o caminho é este ou, em alternativa, é Gaza, é Ucrânia, é Iémen, é o Darfur, etc.”, advertiu.

Eu tenho dito que a questão do Sínodo não pode ser interrompida, porque a metodologia e a forma como se revisitou esta forma de ‘ser um’ da Igreja e caminhar juntos tem outro modo de fazer, que é não simplesmente pensar um documento para dar aos fiéis, mas envolver os fiéis na elaboração deste documento, deste caminho”.

O presidente da CEP elogiou a simplicidade com que decorreu o funeral do Papa, com elevado número de participantes, evocando a passagem pela Casa de Santa Marta, onde Francisco residia, “uma casa de serviço, que foi a atitude que ele sempre teve”.

A presença de centenas de milhares de pessoas mostrou, segundo o entrevistado, a “estima que o Papa tem para além dos muros e das divergências da humanidade, não só dentro da Igreja”.

Quanto ao legado dos últimos 12 anos, D. José Ornelas assume a importância da liderança de Francisco, que convocou a Igreja a “levantar-se e caminhar”, conduzindo-a por um “caminho riquíssimo”, com documentos como as encíclicas ‘Laudato Si’ (2015) e ‘Fratelli Tutti’ (2020), dedicadas à ecologia integral e à fraternidade humana, respetivamente.

“O caminho sinodal faz com que a Igreja caminhe com a humanidade, ao serviço de todos. E este ‘todos, todos, todos’, sai das Jornadas Mundiais da Juventude [2023]”, acrescenta.

O bispo de Leiria-Fátima recordou a passagem do Papa pela Cova da Iria, em agosto de 2023, quando apresentou a Capelinha das Aparições como “imagem da Igreja”, sem “muros para separar, para que todos, todos, todos cheguem”.

O Papa Francisco, que faleceu na última segunda-feira, aos 88 anos de idade, foi sepultado este sábado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, conforme desejo expresso em testamento, depois da Missa exequial na Praça de São Pedro.

Segundo as autoridades italianas, 250 mil pessoas estiveram na zona do Vaticano e outras 150 mil acompanharam o percurso do cortejo fúnebre pelas ruas da capital italiana.

A Conferência Episcopal Portuguesa, em coordenação com o Santuário de Fátima, vai promover uma Eucaristia em memória do Papa Francisco, durante a Assembleia Plenária de primavera, que decorre entre segunda-feira e quinta-feira.
A Missa tem início marcado para as 18h30 de segunda-feira, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

OC

Francisco deixou indicações sobre a sepultura num testamento espiritual, publicado pelo Vaticano, precisando que o sepulcro na Basílica de Santa Maria Maior (Roma) deveria ser “de terra, simples, sem decoração especial e com a única inscrição: ‘Franciscus’”.

“Confiei sempre a minha vida e o meu ministério sacerdotal e episcopal à Mãe de Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que os meus restos mortais repousem à espera do dia da ressurreição na Basílica Papal de Santa Maria Maior”, explicava, num texto datado de 29 de junho de 2022.

O Papa deixou pagas as despesas para a preparação da sua sepultura: “Serão cobertas pelo montante do benfeitor que encontrei, a ser transferido para a Basílica Papal de Santa Maria Maior e para a qual dei instruções apropriadas a monsenhor Rolandas Makrickas”, então comissário extraordinário da basílica papal, uma das quatro de Roma.

O cardeal Mackrikas, que esteve pessoalmente envolvido nas operações relativas à realização do túmulo, falou esta sexta-feira aos jornalistas, referindo que “inicialmente, o Papa Francisco recusou a proposta” do enterro em Santa Maria Maior, mas “reconsiderou” a ideia, uma semana depois.

“Nossa Senhora disse-me: prepara o túmulo. Estou muito feliz”, referiu ao agora coadjutor da Basílica, segundo relato deste.

Ao longo do seu pontificado, Francisco esteve 126 vezes em Santa Maria Maior – a última das quais a 12 de abril – para venerar o ícone da ‘Salus Populi Romani’, que hoje o acompanhou na Praça de São Pedro, durante a Missa de Exéquias.

Segundo o cardeal Makrickas, arcipreste coadjutor, a ideia surgiu numa conversa a 13 de maio de 2022, sobre a necessidade de uma intervenção na estrutura da Capela Paulina, tendo o responsável da Basílica sugerido ao Papa a possibilidade de “estabelecer também o seu túmulo” neste templo.

D. José Ornelas recorda que Francisco se mostrou impressionado com o “silêncio” de Fátima, na sua visita de 2017, por ocasião do Centenário das Aparições.

“Quando se escuta o coração da Igreja que bate em Fátima, que bate também noutros lugares, isso portanto leva as pessoas a entenderem o mistério da vida, o mistério da fé, o mistério da Igreja, o mistério de Deus”, prossegue.

O presidente da CEP diz que Francisco deixou uma atenção particular à “metodologia materna de Maria”, para promover uma “Igreja materna” e que valorize mais a dimensão feminina.

“Essa é uma herança que este Papa tem repetido à saciedade, para quem quer ouvir”, concluiu.

 

 

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