Frei Raniero Cantalamessa afirma que cruz dá «um sentido a todo o sofrimento»
Cidade do Vaticano, 25 mar 2016 (Ecclesia) – O pregador da Casa Pontifícia alertou hoje para os “corações de pedra” na homilia onde explicou que a cruz dá sentido ao sofrimento e na sociedade atual de relatos de mortes diárias, Jesus “mudou o rosto da morte”.
Na homilia, após escutarem a narrativa da Paixão de Cristo, o “relato de uma morte violenta”, frei Raniero Cantalamessa questionou porque é que o mundo ainda recorda dois mil anos depois a morte de Jesus “como se tivesse acontecido ontem”.
“É que esta morte mudou para sempre o rosto da morte. Ela deu um novo sentido à morte de cada ser humano”, disse após ter referido que notícias de mortes e violentas, “quase nunca faltam nos noticiários”.
“Também nestes últimos dias, temos escutado tais notícias, como a dos 38 cristãos coptas assassinados no Egito no Domingo de Ramos. Estas notícias se sucedem com tal rapidez, que nos fazem esquecer, a cada noite, as do dia anterior”, observou o frade Capuchinho na celebração da Paixão do Senhor que foi presidida pelo Papa Francisco.
Na homilia intitulada ‘O Crux, ave spes única’ – A cruz, única esperança do mundo – frei Raniero Cantalamessa realçou que existe uma expressão criada para “descrever a profundidade da maldade” que se pode aglomerar no seio da humanidade que é “coração de trevas”.
“Depois do sacrifício de Cristo, mais profundo do que o coração de trevas, palpita no mundo um coração de luz. Cristo subindo ao céu não abandonou a terra, assim como, encarnando-se, não tinha abandonado a Trindade”, explicou, na Basílica de São Pedro.
Recordando um lema que os monges Cartuxos usam representado pelo globo terrestre encimado por uma cruz, o pregador destaca que essa cruz é o "não definitivo e irreversível” de Deus à violência, à injustiça, ao ódio, à mentira, a tudo que a humanidade chama de “mal” e, ao mesmo tempo, é o “sim, irreversível ao amor, à verdade, ao bem”.
“A cruz é a proclamação viva de que a vitória final não é de quem triunfa sobre os outros, mas de quem triunfa sobre si mesmo. Não daqueles que causam sofrimento, mas daqueles que sofrem”, desenvolveu o frade menor Capuchinho.
Fazendo referência à sociedade “líquida” atual, a filósofos e a um pintor surrealista, frei Raniero Cantalamessa sublinhou que a Cruz está como uma “realidade em ato, viva e operante” no mundo em turbulência e seria “vã” a liturgia da Paixão a análise fosse à sociedade em que se vive.
“O coração de trevas não é apenas aquele de algum malvado escondido no fundo da selva, e nem mesmo aquele da nação e da sociedade que o produziu. Em diferente medida está dentro de cada um de nós”, referiu, afinal Cristo veio para “mudar as pessoas”.
Segundo o pregador da Casa Pontifícia um coração de pedra é o “coração fechado” à vontade de Deus, “ao sofrimento dos irmãos”, que “acumula quantidades ilimitadas de dinheiro” e é “indiferente ao desespero” de quem não tem um copo de água para dar ao próprio filho.
“É o nosso coração de ministros de Deus e de cristãos praticantes se vivemos ainda, basicamente, “para nós mesmos” e não “para o Senhor””, acrescentou frei Raniero Cantalamessa.
CB