«Somos chamados de volta ao coração da vida cristã» – Cardeal Beniamino Stella
Cidade do Vaticano, 02 set 2022 (Ecclesia) – O postulador da causa de canonização de João Paulo I disse hoje que a santidade deste Papa “é importante para a Igreja e para o mundo de hoje”, destacando o seu exemplo, na conferência de imprensa no Vaticano.
“A santidade do Papa Luciani é importante para a Igreja e para o mundo de hoje porque através de seu exemplo somos chamados de volta ao coração da vida cristã”, afirmou o cardeal Beniamino Stella, na Sala de Imprensa da Santa Sé, no contexto da beatificação de João Paulo I, deste domingo.
“À humildade e à bondade daqueles que sabem reconhecer-se como pecadores necessitados de misericórdia, daqueles que querem servir aos outros com generosa dedicação e boas obras, anunciando a alegria do Evangelho”, acrescentou.
Albino Luciani (1912-1978), que se viria a tornar o Papa João Paulo I, vai ser beatificado este domingo, numa cerimónia por Francisco, gesto que reconhece um percurso de vida marcado pela simplicidade e proximidade, que inspirou os seus sucessores.
“Albino Luciani ensinou através de seu testemunho como bispo, que tinha a peito a dimensão universal da Igreja, a importância do amor generoso e da obediência incondicional ao Sucessor de Pedro, assim como o grande valor da unidade e da comunhão episcopal”, salientou o postulador da causa de canonização.
O cardeal Beniamino Stella acrescentou que vários episódios da biografia de João Paulo I falam desta atitude, “fruto de sua fé profunda”, que reconhece a importância da comunhão eclesial, “vivida às vezes em sacrifício e na renúncia a posições e perceções pessoais, para o bem da Igreja e de sua vocação inata à unidade, tão desejada por Jesus na Última Ceia”.
Na conferência de imprensa de apresentação da beatificação, a vice-postuladora desta causa, Stefania Falasca, destacou que a mensagem do Papa Luciani, com sua referência à humildade, “tem um fundamento teológico, mas também o grande caráter de misturar sagrado e profano, ‘nova et vetera’”.
“Com uma grande simplicidade que atinge a todos e o torna único. As raízes de sua santidade devem ser procuradas na própria essência de sua fé”, salientou Stefania Falasca, tendo referido que os 33 dias de um pontificado breve “são a ponta de um grande icebergue escondido de magistério e importantes ensinamentos”.
A responsável, que também é a vice-presidente da Fundação João Paulo I, criada pelo Papa Francisco, referiu-se à relíquia que vai ser apresentada este domingo, na celebração de beatificação, um escrito do pontífice italiano.
“Trata-se de uma novidade, normalmente é uma relíquia pertencente ao corpo. É um escrito assinado de tipo espiritual, proveniente dos papéis do Arquivo privado de Albino Luciani, património da Fundação João Paulo I, abrangendo toda uma vida”, observou.
Stefania Falasca explicou que a “pequena folha branca amarelada pelo tempo” tem um esboço para “uma reflexão espiritual sobre as três virtudes teologais – fé, esperança e caridade” – que faz lembrar as “três audiências gerais de 13, 20 e 27 de setembro de 1978”, as últimas três catequeses do pontificado.
A conferência de imprensa também contou com o testemunho e as lembranças da irmã Margherita Martin, uma das religiosas que estava ao serviço no apartamento pontifício e a primeira a encontrar o pontífice morto, a 28 de setembro de 1978, e uma sobrinha, que recordou, por exemplo, que no patriarcado de Veneza para “além dos móveis ‘históricos’, não havia nada sumptuoso ou de particular valor”.
“E no mês de pontificado, o comportamento sereno e sábio do meu tio permaneceu o mesmo de sempre”, referiu Lina Petri.
O decreto que reconheceu as “virtudes heroicas” do futuro beato foi aprovado em novembro de 2017; a cura reconhecida como milagre, que abriu caminho à beatificação, aconteceu na Argentina, em Buenos Aires.
Na sala de imprensa, o padre Juan José Dabusti recordou que propôs a Roxana, a mãe da criança argentina que tinha epilepsia refratária maligna, que lhe tinha pedido a unção dos doentes, “rezar a João Paulo I para interceder pela vida e cura de Candela”, para o sacerdote este Papa “sempre foi uma grande referência de santidade”; Mãe e filha estão na Argentina e também participaram pelo Zoom.
O processo de beatificação de João Paulo I chegou ao Vaticano a 3 de janeiro de 2007, altura em que, na Congregação para a Causa dos Santos, foi aberto o envelope oficial com os documentos relativos à investigação diocesana sobre a heroicidade da vida e das virtudes, assim como sobre a fama de santidade.
João Paulo I foi Papa entre 26 de agosto e 28 de setembro de 1978.
Albino Luciani nasceu em Canale d’Agordo, Diocese de Belluno, no Véneto, a 17 de outubro de 1912; era patriarca de Veneza quando foi eleito Papa a 26 de agosto de 1978, assumindo o nome de João Paulo I; recusou a coroação formal e não quis ser carregado na cadeira gestatória, ficando conhecido como o “Papa do Sorriso”.
CB