Vaticano: Pobres e excluídos são mais do que «uma estatística» – Francisco (c/fotos e vídeo)

Assembleia Diocesana de Roma denunciou falta de habitação e trabalho para as novas gerações

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Roma, 25 out 2024 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje, em Roma, ao compromisso concreto das comunidades católicas na defesa dos mais pobres e excluídos, denunciando a falta de habitação, o desperdício alimentar e os problemas no acesso à saúde.

“Saber que há pessoas que vivem na rua, jovens que não conseguem encontrar trabalho ou habitação, doentes e idosos que não têm acesso a cuidados, jovens que se afundam na toxicodependência e em muitas outras dependências modernas, pessoas marcadas pelo sofrimento mental que vivem em estado de abandono ou desespero. E isto não pode ser apenas uma estatística; são rostos, são histórias dos nossos irmãos e irmãs que nos tocam e nos interrogam: o que podemos fazer?”,  referiu, presidindo à Assembleia Diocesana de Roma, na Basílica de São João de Latrão, na conclusão de um projeto de oito meses dedicado às desigualdades sociais e o compromisso das comunidades católicas nessa área.

Francisco falou de um “momento importante” para a vida de Roma, perante representantes das comunidades paroquiais e realidades eclesiais, que escutam os “muitos sofrimentos” da cidade, convidando todos a refletir sobre a responsabilidade social dos cristãos.

“Ainda hoje são muitas as desigualdades e pobrezas”, advertiu.

O Papa sublinhou que há “um longo caminho a percorrer” na proteção de idosos e crianças, na reinserção dos reclusos, no acompanhamento dos jovens e das pessoas sozinhas.

Francisco elogiou todos os membros da Igreja Católica que se dedicam à defesa dos mais pobres, pedindo que deixem de ser chamados “comunistas”, uma passagem do discurso que arrancou uma salva de palmas da assembleia.

“A Igreja é chamada a adotar um estilo que coloque no centro aqueles que são marcados por diferentes pobrezas. São tantos os pobres de alimento, de esperança, os famintos de justiça, os sedentos de futuro, os que carecem de verdadeiros laços para enfrentar a vida”, assinalou.

“Façamo-nos presentes entre os pobres e tornemo-nos para eles um sinal da ternura de Deus”, acrescentou

A intervenção denunciou o desperdício de “grandes quantidades de comida, quando há famílias que não têm nada para comer”.

O Papa falou ainda dos “milhares de edifícios vazios”, quando há pessoas a dormir na rua e nos cuidados médicos que só “alguns ricos” podem ter.

“É necessário reparar este rasgão, comprometendo-nos a construir alianças que coloquem a pessoa humana, a sua vida, no centro. E para isso é necessário trabalhar em conjunto, harmonizar as diferenças, partilhar o dom e a missão de cada um”, apontou.

Juntos podemos arriscar novos caminhos, vencendo o vírus da indiferença que nos infecta a todos, como se quando acontece nos cantos da nossa cidade e do planeta não fosse algo que diz respeito a todos”.

Foto: Vatican Media

Francisco pediu aos presentes que reforcem a presença do pensamento social da Igreja “na pastoral ordinária e na catequese”, ajudando a criar “uma nova rede social de solidariedade”

Apontando ao Jubileu 2025, o Papa convidou todos a “semear a esperança”, com sinais concretos em favor da paz e da justiça social.

O futuro cardeal e novo vigário-geral da Diocese de Roma, D. Baldo Reina, introduziu a tarde de oração e reflexão, evocando as consultas realizadas “a partir das periferias e dos pobres”.

A intervenção identificou “quatro formas graves de pobreza”, em quatro áreas específicas: a educação, a saúde, a habitação e o trabalho.

“Quem procura arrendar uma casa em Roma tem de dispor de grandes montantes de dinheiro. Milhares de pessoas estão à espera de habitação social e muitos jovens nem sequer conseguem encontrar um quarto para viver em Roma, durante os seus anos de universidade”, alertou D. Baldo Reina.

O futuro cardeal destacou que estas formas de pobreza se tornam “ainda mais graves pela solidão que envolve tantas pessoas como um manto triste, e por uma indiferença generalizada que faz parte do clima cultural”.

Após a introdução, seguiu-se uma apresentação aos participantes sobre o caminho percorrido nos últimos meses, perante representantes religiosos, de instituições sociais e da sociedade civil, sobre áreas onde “a exclusão e desigualdade são mais fortes na cidade”.

Milhões de pessoas são esperadas em Roma para as celebrações do próximo Ano Santo, entre 28 de dezembro de 2024 e 6 de janeiro de 2026, naquele que será o 27.º jubileu ordinário da história da Igreja.

O Papa Bonifácio VIII instituiu, em 1300, o primeiro ano santo – com recorrência centenária, passando depois, segundo o modelo bíblico, cinquentenária e finalmente fixado de 25 em 25 anos.

OC

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Agência ECCLESIA

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