Francisco, no encontro realizado por videoconferência, incentivou a «arriscar e se cair, não permaneça caído»
Cidade do Vaticano, 02 fev 2025 (Ecclesia) – O Papa Francisco lembrou que a guerra “destrói sempre” a 250 jovens ucranianos, espalhados por vários países do mundo, num encontro online com testemunhos, orações, perguntas e respostas, onde mostrou o Novo Testamento e rosário do jovem soldado Oleksandr.
“Para mim, esta é uma relíquia, de um dos seus jovens que deu a vida pela paz. E tenho-o na minha escrivaninha e com ele rezo todos os dias. Devemos lembrar-nos desses nossos heróis que defenderam a Pátria, o povo ucraniano está a sofrer, está a morrer de fome. Abramos os olhos, vejamos o que uma guerra faz”, disse o Papa Francisco, citado pelo portal ‘Vatican News’.
Francisco mostrou aos jovens ucranianos que participaram, este sábado, dia 1 de fevereiro, num encontro online, o rosário e o livro com o Novo Testamento e os Salmos, com uma capa camuflada, que o soldado ucraniano Oleksandr, jovem de 23 anos, levou para a frente de guerra, onde morreu em Avdiïvka; estas relíquias foram entregues ao Papa no dia 13 de março de 2024.
“Leiam um pequeno trecho durante o dia. Isso é vida!”, pediu o Papa, incentivando os jovens a terem consigo um Evangelho de bolso.
Francisco explicou que “todos os jovens têm uma missão” e destacou o exemplo patriota de Oleksandr, porque “amar a pátria é uma coisa muito bonita”, na resposta a uma pergunta indicou também que “hoje, a missão dos jovens ucranianos é ser patriotas”, “amar o seu país”, não devem esconder-se dos “problemas com a guerra” num “país ferido pela guerra”.
“Por favor, não se esqueçam dos seus jovens heróis, como Oleksandr, os jovens que deram a sua vida pela Pátria”, disse no final do encontro, como uma última recomendação, após o Hino Espiritual da Ucrânia, antes da bênção.
Os 250 jovens do rito latino e do rito greco-católico estavam ligados ao Vaticano desde Kiev, da Diocese de Lutsk e do Exarcado de Donetsk, de Varsóvia e Munique, de Londres, de Chicago e Toronto.
O Papa, que lembrou que a guerra “sempre destrói”, e a fome, “uma das piores coisas da guerra”, “é terrível”, partilhou que todas as noites telefona para a Paróquia de Gaza (Palestina), e “eles contam como ficam com fome tantas vezes”.
“Façam as perguntas que quiserem!”, foi dito aos jovens, no encontro que começou com a oração do Pai Nosso, e o Papa com uma folha de papel em branco e uma caneta.
Esta iniciativa foi organizada pelo núncio apostólico na Ucrânia, arcebispo Visvaldas Kulbokas, e pelo arcebispo-mor Svyatoslav Ševčuk, o líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que afirmou ser “um encontro histórico entre o Papa de Roma e os jovens ucranianos”; também participou o D. Jan Sobilo, bispo auxiliar de Kharkiv-Zaporizhzhia.
“Se a sirene de ataque aéreo começar a soar, devemos interromper a conexão e ir para o subsolo. É um milagre termos luz e eletricidade, ontem à noite sofremos outro ataque aéreo mas alguém ligou os cabos: temos luz e conexão de internet!”, disse o arcebispo-mor, que estava com jovens na Catedral da Ressurreição, em Kiev.
CB
Francisco ouviu três testemunhos, o primeiro, uma jovem de 17 anos, nascida numa família muito grande e devota, lembrou o seu irmão, enviado para a frente da guerra, e ferido várias vezes, depois uma jovem de Donetsk afirmou que “a fé dá força para seguir em frente”. “Dirijo-me ao senhor em nome de todos os jovens de Donetsk. Queremos paz, uma paz justa e duradoura, que nos permita retornar às nossas cidades e aos nossos sonhos. Acreditamos que o bem é mais forte que o mal”, disse ao Papa. Um jovem de 18 anos de Kharkiv recordou outros como ele que vão para a frente da guerra e “muitos morrem”, mas morrem também pessoas como Maria, de 12 anos, e a mãe quando um míssil atingiu um supermercado; esta adolescente já participava em ações solidárias: “Apesar da dor, acreditamos que estão com Deus, elas são os nossos anjos”. Tatiana, de 35 anos, vive em Chicago, e recordou muitos pequenos que escaparam aos “Herodes de hoje”, e perguntou como é que podem “perdoar e ensinar as crianças a perdoar quando a dor e a injustiça da guerra deixam feridas profundas”. “Uma das coisas mais difíceis é perdoar e isso é difícil para todos, inclusive para mim, mas esta frase ajuda-me: devo perdoar como fui perdoado. Cada um de nós deve buscar na própria vida como foi perdoado. Nós tentamos sempre travar uma guerra e responder a um soco com outro soco”, desenvolveu o Papa. Francisco realçou que “a arte do perdão não é fácil”, mas devem “perdoar uns aos outros, sempre”. |