Francisco lamenta ação de grupos que visam questionar legitimidade da reforma litúrgica
Cidade do Vaticano, 16 jul 2021 (Ecclesia) – O Papa publicou hoje um decreto (Motu Proprio) que volta a restringir o uso do missal pré-Concílio Vaticano II, lamentando a ação de grupos, dentro da Igreja Católica, que visam questionar a “legitimidade” da reforma litúrgica.
“É cada vez mais evidente nas palavras e atitudes de muitos que existe uma relação estreita entre a escolha das celebrações de acordo com os livros litúrgicos anteriores ao Concílio Vaticano II e a rejeição à Igreja e suas instituições em nome do que eles julgam ser a ‘verdadeira Igreja’”, escreve Francisco, numa carta enviada aos bispos de todo o mundo.
A missiva, divulgada pelo Vaticano, diz que este é um comportamento que “contradiz a comunhão”.
“É para defender a unidade do Corpo de Cristo que sou obrigado a revogar a faculdade concedida pelos meus predecessores”, indica o Papa.
Um ‘Motu Proprio’ de Bento XVI sobre a Liturgia Romana anterior à reforma do Concílio Vaticano II (1962-1965), que entrou em vigor a 14 de setembro de 2008, aprovara a utilização universal do Missal promulgado pelo Beato João XXIII em 1962, com o Rito de São Pio V, utilizado na Igreja durante séculos.
Com o ‘Motu Proprio’ “Guardiães da Tradição” (Traditionis custodes), sobre o uso da liturgia romana anterior a 1970, o Papa Francisco determina agora que compete ao responsável diocesano a “exclusiva competência autorizar o uso do Missale Romanum de 1962”, seguindo as orientações da Sé Apostólica”.
Cada bispo deve certificar-se de que os grupos que já celebram com o antigo missal “não excluam a validade e a legitimidade da reforma litúrgica, os ditames do Concílio Vaticano II e o Magistério dos Sumo Pontífices”.
Francisco estipula que as Missas no rito antigo deixem de ser realizadas nas igrejas paroquiais, pelo que cada bispo determinará a igreja e os dias de celebração.
As leituras devem ser “na língua vernácula”, utilizando traduções aprovadas pelas Conferências Episcopais e o celebrante deve ser um sacerdote delegado pelo bispo.
O bispo diocesano é também responsável por verificar a oportunidade de manter as celebrações de acordo com o antigo missal, num critério de “utilidade efetiva para o crescimento espiritual”, tendo “o cuidado de não autorizar a constituição de novos grupos”.
Francisco sublinha que as determinações dos seus antecessores tinham como objetivo “a recomposição da unidade da Igreja”, sobretudo em relação à Fraternidade de São Pio X, mas foram vistas “por muitos dentro da Igreja como a possibilidade de usar livremente o Missal Romano promulgado por São Pio V”.
Nesse sentido, indica, as disposições de Bento XVI acabaram por ser usadas indevidamente para “aumentar as distâncias, endurecer as diferenças, construir contraposições que ferem a Igreja e dificultam o seu caminho, expondo-a ao risco de divisões”.
O Papa alerta para abusos nas celebrações litúrgicas “de um lado e do outro” e critica um “uso instrumental do Missale Romanum de 1962, cada vez mais caracterizado por uma crescente rejeição não só da reforma litúrgica, mas do Concílio Vaticano II”.
O Rito de São Pio V, que a Igreja Católica usava até à reforma litúrgica de 1970 (com algumas modificações, a últimas das quais datada de 23 de junho de 1962) foi substituído pela Liturgia do ‘Novus Ordo’ (Novo Ordinário) aprovada por São Paulo VI, como resultado da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II.
Em janeiro de 2019, o Papa suprimiu a Comissão Pontifícia ‘Ecclesia Dei’, criada pelo Papa São João Paulo II, a 2 de julho de 1988, com o objetivo de “facilitar a plena comunhão eclesial” dos sacerdotes, seminaristas, comunidades ou de cada religioso ou religiosa ligados à Fraternidade São Pio X, fundada por monsenhor Lefebvre, que desejem permanecer unidos ao sucessor de Pedro na Igreja Católica, “conservando as suas tradições espirituais e litúrgicas”.
Francisco contextualizou que a Congregação para a Doutrina da Fé solicitou a condução direta do diálogo com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, na reunião de 15 de novembro de 2017, “por se tratarem de questões de caráter doutrinal”.
Em março de 2017, o Papa decidiu autorizar os sacerdotes da Fraternidade Sacerdotal São Pio X a celebrar matrimónios para os fiéis que pertencem a esta comunidade.
OC