Encontro acontece após casos que envolvem Igreja Católica na gestão de escolas residenciais
Cidade do Vaticano, 23 mar 2022 (Ecclesia) – O Papa vai receber na próxima semana uma série de delegações dos povos indígenas do Canadá, com que se vai reunir em conjunto a 1 de abril, anunciou hoje o Vaticano.
“De 28 a 31 de março, o Papa Francisco vai reunir-se individualmente com delegações dos povos indígenas canadianos, acompanhados pelos seus próprios bispos, para ouvir os seus testemunhos”, adianta, em comunicado, o diretor da sala de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.
Já a 1 de abril, na Sala Clementina do Palácio Apostólico, acontece a audiência “com a participação conjunta das várias delegações e da Conferência Episcopal do Canadá, durante a qual o Papa terá forma de intervir”, acrescenta a nota enviada aos jornalistas.
Esta visita estava inicialmente programada para dezembro de 2021 e foi adiada devido à Covid-19.
O programa prevê reuniões pessoaisdo Papa com cada um dos três grupos de delegados – Primeiras Nações, Métis e Inuit – e uma audiência final, além de visitas a instituições da Santa Sé.
Em outubro do último ano, o Vaticano anunciou que Francisco aceitou um convite da Conferência Episcopal do Canadá para visitar este país, inserida no processo de “reconciliação” com os povos indígenas.
Um mês antes, a Conferência Episcopal do Canadá publicou um “pedido inequívoco de desculpas” aos povos indígenas do território, numa nota em que aborda envolvimento histórico da Igreja Católica nas escolas residenciais.
“Juntamente com as entidades católicas que estiveram diretamente envolvidas no funcionamento das escolas residenciais e que já pediram as suas sinceras desculpas, nós, os bispos católicos do Canadá, manifestamos o nosso profundo remorso e apresentamos um pedido inequívoco de desculpas”, referem os responsáveis católicos.
Em 2021 foram descobertas centenas de sepulturas anónimas junto de antigas escolas residenciais indígenas; várias destas instituições pertenciam à rede de escolas administrada pela Igreja Católica, destinadas à “reeducação” de crianças indígenas, com o apoio do Governo canadiano.
“Reconhecemos os graves abusos cometidos por alguns membros de nossa comunidade católica: físicos, psicológicos, emocionais, espirituais, culturais e sexuais. Reconhecemos igualmente, com tristeza, o trauma histórico e contínuo, bem como o legado de sofrimento e os desafios que perduram até hoje para os povos indígenas”, indicava o comunicado dos bispos católicos do Canadá, dirigido aos povos indígenas (Primeiras Nações).
A nota admitia que o sistema implementado nestes internatos, nos séculos XIX e XX, “levou à supressão das línguas, cultura e espiritualidade autóctones, sem respeitar a rica história, tradições e sabedoria dos povos indígenas”.
A 6 de junho de 2021, o Papa reagiu no Vaticano à descoberta de restos mortais de 215 crianças numa instituição católica.
“As autoridades políticas e religiosas do Canadá devem continuar a colaborar com determinação para fazer luz sobre este triste acontecimento, empenhando-se humildemente num caminho de reconciliação e cura”, apelou.
Em 2015, após sete anos de pesquisa, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá divulgou um relatório sobre escolas residenciais, revelando que entre 1890 e 1996 mais de 3 mil crianças morreram por causa de doenças, fome, frio e outros motivos.
OC