Vaticano: Papa renova críticas a globalização que «condenou» pessoas à morte de fome

Francisco aborda temas ligados à família, ao papel da mulher e ao futuro da Igreja em entrevista a jornal italiano

Roma, 05 mar 2014 (Ecclesia) – O Papa renovou as suas críticas à globalização económica e financeira, numa entrevista publicada hoje pelo jornal italiano ‘Corriere della Sera’, lamentando que o “dinheiro” tenha tomado o lugar central de cada pessoa.

“É verdade que a globalização salvou muitas pessoas da pobreza, mas condenou muitas outros a morrer de fome, porque se tornou seletiva com este sistema económico”, assinala Francisco.

O Papa explica que a decisão de centrar as próximas assembleias do Sínodo dos Bispos nas questões da família derivou da “crise muito séria” que esta atravessa.

“Os jovens casam-se pouco, há muitas famílias separadas nas quais o projeto de vida comum falhou, os filhos sofrem muito: temos de dar uma resposta, mas para isso é preciso refletir muito em profundidade”, assinala.

Neste contexto, Francisco reafirma que o matrimónio é “entre um homem e uma mulher” e que os Estados laicos podem querer regular as outras “situações de convivência”.

O Papa retoma a sua reflexão sobre a necessidade de uma maior presença das mulheres nos “lugares de decisão da Igreja”, um tema que diz estar em “aprofundamento teológico”.

Em relação à contraceção e ao planeamento familiar, Francisco elogia a “genialidade profética” de Paulo VI, que há meio século assinou a encíclica ‘Humanae Vitae’, que diz ter funcionado como um “travão cultural”.

“A questão não é mudar a doutrina, mas ir em profundidade e fazer com que a pastoral tenham em conta as situações e aquilo que é possível fazer pelas pessoas”, acrescenta.

A entrevista revela uma troca de correspondência entre o Papa e o presidente, da China, e que os próximos destinos das viagens pontifícias serão “a Terra Santa, a Ásia e a África”.

Francisco diz que não tem saudades da Argentina, embora gostasse de ir visitar a sua irmã, que se encontra doente.

“Gostaria de vê-la, mas isso não justifica uma viagem à Argentina: ligo-lhe por telefone e isso basta. Não penso ir lá antes de 2016, porque já estive na América Latina, no Rio de Janeiro”, recorda o Papa.

Jorge Mario Bergoglio, de 77 anos de idade, foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março do último ano, após a renúncia do agora Papa emérito.

Francisco é o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja e o primeiro pontífice sul-americano.

Em doze meses, o Papa argentino visitou o Brasil (Rio de Janeiro e Aparecida) e realizou três viagens à Itália, incluindo uma passagem pela ilha de Lampedusa.

Entre os principais documentos do atual pontificado estão a encíclica ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), que recolhe reflexões de Bento XVI, e a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), tendo ainda sido convocado um Sínodo sobre a Família, que vai decorrer em duas sessões: uma extraordinária em 2014 e outra ordinária, em 2015.

Francisco criou uma Secretaria para a Economia e um Conselho de Cardeais, com membros dos cinco continentes, para o aconselharem no Governo da Igreja e na reforma da ‘Constituição’ do Vaticano, aprovando nova legislação para regular a atividade financeira da Santa Sé.

OC

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