Francisco denuncia a contribuição das nações mais ricas para o estado atual global e defende que as pessoas mais desfavorecidas «devem ser mais apoiadas e protegidas»
Cidade do Vaticano, 16 mai 2024 (Ecclesia) – O Papa renovou hoje, no Vaticano, o apelo para a “ação urgente” face a crise climática, sublinhado que “são os pobres da terra que mais sofrem”, enquanto as nações mais ricas contribuem para a situação atual.
“São os pobres da Terra que mais sofrem, apesar de serem os que menos contribuem para o problema. As nações mais ricas, cerca de mil milhões de pessoas, produzem mais de metade dos poluentes que provocam o aquecimento. Em contrapartida, os três mil milhões de pessoas mais pobres contribuem com menos de 10%, mas suportam 75% das perdas resultantes”, afirmou Francisco, num discurso divulgado pela Santa Sé.
Na audiência com cerca de 200 participantes do encontro promovido pelas Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais sobre o tema “Da crise climática à resiliência climática”, o Papa salientou que as pessoas mais desfavorecidas, “que têm muito pouco a ver com as emissões poluentes”, são as “vítimas” e que devem ser “apoiadas e protegidas”.
“Estamos a trabalhar para uma cultura da vida ou para uma cultura da morte? O senhor respondeu que devemos estar atentos ao grito da terra, ouvir o apelo dos pobres, ser sensíveis às esperanças dos jovens e aos sonhos das crianças! Que temos a grave responsabilidade de garantir que não lhes seja negado um futuro”, advertiu.
O Papa denunciou que “os 46 países menos desenvolvidos – maioritariamente africanos – são responsáveis por apenas 1% das emissões globais de CO2” e “em contrapartida, os países do G20 são responsáveis por 80% dessas emissões”.
Na audiência, Francisco saudou o trabalho das Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais e sublinhou os dados da investigação que realizaram que “mostra a trágica realidade de que as mulheres e as crianças suportam um fardo desproporcionado”.
“Muitas vezes, as mulheres não têm o mesmo acesso aos recursos que os homens e o facto de cuidarem da casa e dos filhos pode impedir a sua capacidade de migrar em caso de catástrofe”, indicou, acrescentando que quase mil milhões de crianças “residem em países que enfrentam um risco extremamente elevado de devastação relacionada com o clima”.
Francisco denuncia que “a recusa de agir rapidamente para proteger os mais vulneráveis expostos às alterações climáticas provocadas pelo homem é uma falha grave”, criticando as indústrias poluentes.
“O progresso ordenado é então dificultado pela procura voraz de ganhos a curto prazo por parte das indústrias poluentes e pela desinformação, que gera confusão e dificulta os esforços coletivos para inverter o rumo”, indicou.
Abordando as consequências da alterações climáticas, as “migrações forçadas” e a “previsões preocupantes”, o Papa considera que proteger “a dignidade e os direitos dos migrantes climáticos é afirmar a sacralidade de toda a vida humana e honrar o mandato divino de guardar e proteger a casa comum”.
Francisco defende que primeiramente, “é necessária uma abordagem universal e uma ação rápida e decisiva para provocar mudanças e decisões políticas”, seguindo-se a necessidade de inverter a curva do aquecimento global, “procurando reduzir para metade a taxa de aquecimento no prazo de um quarto de século”, ao mesmo tempo que deve ter-se como objetivo a “a descarbonização global, eliminando a dependência dos combustíveis fósseis”.
“Em terceiro lugar, é necessário remover grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera, através de uma gestão ambiental que abranja várias gerações. É um trabalho longo, mas também clarividente, que todos devemos empreender em conjunto”, realçou.
Na audiência, o Papa ressaltou ainda que “deve ser desenvolvida uma nova arquitetura financeira para dar resposta às necessidades do sul do mundo e dos estados insulares gravemente afetados por catástrofes climáticas”.
“Agradeço o vosso empenho e encorajo-vos a continuar a cooperar na transição da atual crise climática para a resiliência climática com equidade e justiça social. É necessária uma ação urgente – com urgência! – compaixão e determinação, porque o que está em jogo não podia ser mais elevado”, concluiu.
LJ/OC