Missa com novos cardeais assinala abertura oficial da XVI assembleia sinodal, precedida por uma consulta global às comunidades católicas
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 04 out 2023 (Ecclesia) – O Papa inaugurou hoje, no Vaticano, a XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, pedindo aos participantes que rejeitem as “batalhas ideológicas” ou a ideia de um parlamento.
“Estamos na abertura da Assembleia Sinodal. E não nos ajuda um olhar imanente, feito de estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas: se o Sínodo vai dar esta autorização, aquela outra, se vai abrir esta porta ou outra… isso não é útil”, referiu, na Missa a que presidiu na Praça de São Pedro.
A celebração contou com a participação de centenas de cardeais e bispos de todo o mundo, incluindo os novos cardeais, criados no consistório do último sábado, entre eles D. Américo Aguiar, bispo eleito de Setúbal.
“Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar nem um plano de reformas. O Sínodo, irmãos e irmãs, não é um Parlamento. O protagonista é o Espírito Santo. Não estamos para um Parlamento, estamos aqui para caminhar juntos com o olhar de Jesus, que bendiz o Pai e acolhe a quantos estão cansados e oprimidos”, apontou Francisco.
A Conferência Episcopal Portuguesa está representada no Sínodo pelo seu presidente e vice-presidente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, respetivamente.
A homilia alertou para “tentações perigosas” que podem marcar este encontro mundial, como o de ser uma Igreja “rígida”, uma Igreja tépida,” que se rende às modas do mundo” ou uma Igreja “cansada, fechada em si mesma”.
“Este é o dever primário do Sínodo: centrar de novo o nosso olhar em Deus, para sermos uma Igreja que olha, com misericórdia, para a humanidade”, prosseguiu.
Se o Povo santo de Deus com os seus pastores, de todas as partes do mundo, nutre anseios, esperanças e até qualquer receio sobre o Sínodo que iniciamos, recordemos mais uma vez que não se trata duma reunião política, não é um Parlamento, é uma convocação no Espírito; não se trata dum parlamento polarizado, mas dum lugar de graça e comunhão”.
A homilia partiu de um “momento difícil” da missão de Jesus, marcado pelas dúvidas e a rejeição do seu ensinamento, sublinhando que Cristo mostrou “um olhar capaz de ver mais além”.
“Sejamos uma Igreja que, de ânimo feliz, contempla a ação de Deus e discerne o presente; uma Igreja que, no meio das ondas por vezes agitadas do nosso tempo, não desanima, não procura escapatórias ideológicas, não se barrica atrás de convicções adquiridas, não cede a soluções fáceis, nem deixa que seja o mundo a ditar a sua agenda”, apelou o pontífice.
Francisco advertiu contra as divisões e os conflitos, desejando que o Sínodo mostre uma Igreja “unida e fraterna, que escuta e dialoga”, uma Igreja “hospitaleira” e que “arrisca”, com um “olhar acolhedor para com os mais frágeis, os atribulados, os descartados”.
“Uma Igreja que tem Deus no centro e, consequentemente, não se divide internamente e nunca é dura externamente”, acrescentou, repetindo o apelo a ter as “portas abertas a todos, todos, todos”, que deixou em Lisboa, durante a JMJ 2023.
A Missa foi celebrada no dia da festa litúrgica de São Francisco de Assis, “o santo da pobreza e da paz”, que se despojou de tudo.
“É difícil, este despojamento interior e também exterior de todos nós, também da instituição”, apontou o Papa.
O cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, celebrou no altar, como tem acontecido em várias celebrações dos últimos meses, devido às limitações físicas do atual pontífice.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer até 29 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
O encontro tem 365 votantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.
Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.
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