Vaticano: Papa recorda migrantes mortos no Mediterrâneo, criticando discursos que falam em «invasão»

Francisco apela ainda a implementação do acordo atingido na COP28, para enfrentar crise climática

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 08 jan 2024 (Ecclesia) – O Papa recordou hoje, no Vaticano, os migrantes que arriscam a vida em “percursos perigosos”, sobretudo no Mar Mediterrâneo.

“Infelizmente este [Mediterrâneo] tornou-se, na última década, um grande cemitério, com tragédias que continuam a suceder-se, também devido a traficantes de seres humanos sem escrúpulos. Entre as inúmeras vítimas – não o esqueçamos –, há muitos menores não acompanhados”, denunciou, no encontro com os membros do corpo diplomático acreditados junto da Santa Sé.

No tradicional encontro de Ano Novo, Francisco referiu que guerras, pobreza, crise climática, exploração de recursos e tragédias naturais “impelem milhares de pessoas a abandonar a sua terra, à procura dum futuro de paz e segurança”.

“Perante esta imensa tragédia, facilmente acabamos por fechar o nosso coração, entrincheirando-nos por trás do medo duma invasão. Esquecemo-nos facilmente que temos diante de nós pessoas com rostos e nomes”, lamentou.

Passa-nos despercebida a vocação própria do ‘Mare Nostrum’, que não é a de ser um túmulo, mas um lugar de encontro e enriquecimento recíproco entre pessoas, povos e culturas”.

Francisco considerou que a migração deve ser regulamentada para “acolher, promover, acompanhar e integrar” as pessoas, “no respeito pela cultura, a sensibilidade e a segurança das populações” dos países de acolhimento.

“Diante deste desafio, nenhum país pode ser deixado sozinho, nem ninguém pode pensar em enfrentar isoladamente a questão através de legislações mais restritivas e repressivas, às vezes aprovadas sob a pressão do medo ou à busca de consensos eleitorais”, acrescentou.

O Papa saudou, neste sentido, o empenho da União Europeia de procurar uma solução comum, através da adoção do novo Pacto sobre a Migração e o Asilo, embora “assinalando algumas limitações, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento do direito de asilo e ao perigo de detenções arbitrárias”.

Francisco mostrou-se preocupado com a crise climática e criticou, por exemplo, a “desflorestação da Amazónia”, antes de apelar à implementação dos acordos atingidos na XXVIII Conferência dos Estados-Parte na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP28), realizada no Dubai em dezembro de 2023.

“A adoção do documento final na COP28 constitui um passo encorajador e revela que, perante as inúmeras crises que estamos a viver, há a possibilidade de revitalizar o multilateralismo através da gestão da questão climática global, num mundo onde os problemas ambientais, sociais e políticos estão intimamente conexos”, indicou.

O Papa declarou que “o cuidado da criação e a paz são as questões mais urgentes e estão interligadas”.

184 Estados mantêm relações diplomáticas plenas com a Santa Sé, a que se somam a União Europeia e a Ordem Soberana e Militar de Malta; existem 91 missões diplomáticas acreditadas junto da Santa Sé com sede em Roma, incluindo a de Portugal, bem como os gabinetes da Liga dos Estados Árabes, da Organização Internacional para as Migrações e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

OC

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Agência ECCLESIA

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