Paulo Rangel destaca papel da Igreja Católica em processos de paz, apontando ao conflito em Moçambique
Cidade do Vaticano, 24 jan 2025 (Ecclesia) – O Papa recebeu hoje, em audiência privada, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, que levou a Roma preocupações com a situação em Moçambique.
“Para o diálogo político, para a reconciliação nacional e para a estabilidade em Moçambique, qualquer contributo é sempre bem-vindo. A Igreja Católica, o Vaticano, tem aqui uma experiência e uma capacidade de interlocução que considero, e Portugal sempre considerou, única”, referiu aos jornalistas, após o encontro desta manhã.
Rangel encontrou-se ainda com o secretário do Vaticano para as relações com os Estados, D. Paul Richard Gallagher.
As manifestações dos últimos meses, em Moçambique, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que já provocaram mais de 300 mortos e 600 pessoas feridas, segundo organizações da sociedade civil; a oposição fala em mais de 4 mil detidos.
A agenda do ministro dos Negócios Estrangeiros começou esta quinta-feira, incluindo um encontro com a Comunidade de Santo Egídio, fundada no bairro de Trastevere, em Roma, Itália, por Andrea Riccardi, professor de história contemporânea, em 1968.
A comunidade, reconhecida pelo trabalho em prol dos direitos humanos e da paz, a nível internacional, esteve envolvida na assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, no ano de 1992, que encerrou 16 anos de guerra civil em Moçambique.
“É fundamental que as partes possam falar e possam encontrar um clima de diálogo que traga estabilidade e traga prosperidade, porque a situação social também é uma situação difícil num país como Moçambique. Portanto, são essas as duas mensagens que eu quero passar”, assinalou o governante português.
Paulo Rangel assinalou que Portugal e a União Europeia “estarão sempre disponíveis para ajudar qualquer esforço de diálogo e de mediação que possa trazer um período de estabilidade, de pacificação e de prosperidade para o Estado de Moçambique e para o povo moçambicano.
“Aí, evidentemente, o Vaticano terá instrumentos ágeis para atuar, mas são sempre coisas muito complexas”, acrescentou, sublinhando que desde o início da crise que se seguiu às eleições gerais de 9 de outubro de 2024, cujos resultados não são reconhecidos pela oposição moçambicana, “o Governo português teve sempre canais diretos” com a Santa Sé.
“Todos têm um papel, talvez papéis diferentes, mas todos têm um papel e outros que queiram tê-lo serão sempre bem-vindos”, insistiu.
Paulo Rangel anunciou que, nos próximos meses, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, vai visitar o Vaticano.
“Uma visita à Itália e ao Vaticano, à Santa Sé, com certeza deverá ocorrer neste semestre”, indicou.
HM/OC
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal falou ainda da crise em Gaza, reforçando a posição do país em “favor da solução dos dois Estados”.
Questionado sobre o reconhecimento formal do Estado da Palestina, Paulo Rangel disse que o Governo português está “profundamente tranquilo”, inserindo-se nas opções diplomáticas da União Europeia. “Com reconhecimentos sucessivos, a solução dos dois Estados não ficou mais próxima ainda. Portanto, vamos com calma”, sustentou. |
Vaticano: Papa assume preocupação com «grave crise política» em Moçambique