Vaticano: Papa quer consagrar proibição de uso e posse de armas nucleares no Catecismo da Igreja Católica

Francisco reitera mensagens deixadas no Japão, após visitar Nagasáqui e Hiroxima

Cidade do Vaticano, 26 nov 2019 (Ecclesia) – O Papa disse hoje em conferência de imprensa que quer consagrar a proibição de uso e posse de armas nucleares no Catecismo da Igreja Católica, reforçando as mensagens deixadas este domingo, após visitar Nagasáqui e Hiroxima.

“O uso das armas nucleares é imoral, por isso deve ser introduzido no Catecismo da Igreja Católica; e não somente o uso, mas também a posse, porque um acidente, ou a loucura de algum governante, a loucura de um só pode destruir a humanidade”, referiu aos jornalistas, no voo entre Tóquio e Roma, após uma viagem de sete dias à Ásia, com passagens pela Tailândia e o Japão.

Segundo a transcrição da conferência de imprensa, disponibilizada pelo portal de notícias do Vaticano, o Papa foi questionado sobre a sua experiência nas duas cidades atingidas por bombas atómicas lançadas pelos EUA, durante a II Guerra Mundial.

“Hiroxima foi uma verdadeira catequese humana sobre a crueldade, não pude ver o museu de Hiroxima por motivos de tempo, porque foi um dia difícil, mas dizem que é terrível: cartas dos Chefes de estado, dos generais que explicavam como se podia fazer um desastre maior. Para mim foi uma experiência muito mais comovente”, relatou.

Francisco disse que em Nagasáqui teve em mente não só as vítimas das bombas mas também os mártires cristãos, que se converteram após a chegada dos primeiros missionários, entre eles vários portugueses, no século XVI.

“Nagasáqui tem raízes cristãs, o cristianismo é antigo, havia perseguição aos cristãos em todo o Japão, mas em Nagasáqui foi muito forte. O secretário da Nunciatura ofereceu-me um fac-símile em madeira onde está escrito o ‘procura-se’ daquele tempo: procuram-se cristãos! Se encontrar um, denuncie e será bem compensado”, afirmou.

Francisco falou também da sua experiência junto das vítimas do desastre com a central nuclear de Fucuxima, em 2011.

“O nuclear é o limite, devemos abandonar as armas porque elas são destruição. O uso do nuclear está muito no limite, porque ainda não alcançamos uma segurança total”, advertiu o Papa, para quem não existe a garantia absoluta de evitar os acidentes.

“É uma opinião pessoal, eu não usaria a energia nuclear enquanto não houver uma segurança total sobre a sua utilização”, acrescentou.

O Papa admitiu o recurso às armas, em legítima defesa, como “último recurso”, lamentando a ineficácia das organizações internacionais na mediação de conflitos, muitas vezes por causa de vetos no Conselho de Segurança da ONU.

“A hipótese da legítima defesa permanece sempre, mesmo na teologia moral é contemplada, mas como último recurso. Último recurso às armas. A legítima defesa deve ser feita com a diplomacia, com as mediações”, insistiu.

O pontífice reiterou a sua preocupação com a defesa da natureza, considerando que os seres humanos começam a sofrer com doenças que “existem devido ao mau uso do ambiente”.

Francisco revelou ainda ter falado com o primeiro-ministro japonês sobre a questão da pena da morte, rejeitando as “condenações eternas que nunca acabam, quer com a morte, quer sem ela”.

“Não se pode utilizar a pena de morte, não é moral. Isso deve ser unido a uma consciência que se desenvolve”, observou, a respeito das mudanças que se verificaram, a este respeito, no Catecismo da Igreja Católica.

Segundo o Papa, qualquer condenação deve visar a “reinserção” e mesmo em casos de prisão perpétua “é preciso pensar sobre como o condenado de pode reinserir, dentro ou fora”.

“Em muitas partes do mundo as prisões estão sobrelotadas, são depósitos de carne humana”, denunciou.

OC

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Agência ECCLESIA

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