Francisco encontrou-se com o clero de Roma e disse que a Igreja «nunca esteve tão bem»
Cidade do Vaticano, 17 set 2013 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse esta segunda-feira que a Igreja Católica vai promover uma reflexão sobre a questão da nulidade dos matrimónios e as segundas uniões, que considerou um “problema grave”.
“O problema não pode ser reduzido à questão de comungar ou não, porque quem coloca o problema somente nestes termos não entende qual é o verdadeiro problema”, disse, num encontro com o clero de Roma que decorreu na Basílica de São João de Latrão, a catedral da capital italiana.
Segundo o Papa, este é “um problema grave de responsabilidade da Igreja, em relação às famílias que vivem esta situação”.
Francisco adiantou que o tema vai estar em debate entre 1 e 3 de outubro na primeira reunião com os membros da comissão de oito cardeais representantes dos cinco continentes que nomeou para o aconselharem no governo da Igreja e também para estudarem o documento que regulamenta a Cúria Romana.
O Papa disse ainda que o tema do casamento será tratado também no próximo Sínodo dos Bispos, por ser uma “periferia existencial”, no contexto da “relação antropológica” do Evangelho com a pessoa e a família.
A questão já tinha sido abordada por Francisco no final da viagem ao Brasil (28 de julho), durante um encontro com jornalistas, no voo de regresso a Roma, ao ser questionado sobre o acesso aos sacramentos para os divorciados que voltaram a casar: “Eu acho que é necessário estudar isso na totalidade da pastoral do matrimónio. E por isso é um problema”.
A intervenção de segunda-feira, divulgada pela Rádio Vaticano, deixou um tom de otimismo em relação ao futuro: “Ouso dizer que a Igreja nunca esteve tão bem como hoje. A Igreja não cai: estou certo disso, estou certo”.
Francisco pediu que os padres estejam perto do seu povo, para responder às “exigências de Deus”, enfrentando o cansaço e eventual desânimo com a oração.
“Nós, bispos, devemos estar próximos dos sacerdotes, devemos ser caridosos com o próximo e os mais próximos são os sacerdotes”, prosseguiu.
O Papa respondeu depois a algumas perguntas dos presentes, começando por afirmar que no serviço pastoral não se deve “confundir a criatividade com fazer alguma coisa nova”.
A criatividade, precisou, passa por procurar “o caminho para que o Evangelho seja anunciado” não apenas “mudar as coisas”.
Esses caminhos, exemplificou Francisco, podem passar por uma “missão no bairro” promovida pelos leigos ou por dinamizar momentos de acolhimento “cordial”: “Que aquele que vem à Igreja se sinta como em sua casa, se sinta bem. Que não se sinta explorado”.
A intervenção contrapôs os “sacerdotes misericordiosos” aos padres rigorosos e negligentes, pedindo que os membros do clero saibam “voltar à recordação do primeiro amor”, de Jesus, porque uma Igreja sem memória “não tem vida”.
“A verdade de Deus é esta verdade, digamos assim, dogmática, para dizer uma palavra, ou moral, mas acompanhada do amor e da paciência de Deus, sempre assim”, acrescentou.
O Papa voltou a defender que a “santidade quotidiana” é maior do que “certos escândalos” no seio da Igreja, numa intervenção marcada pelos aplausos dos presentes.
RV/OC