Cerimónia marca encerramento do Jubileu da Educação
Cidade do Vaticano, 01 nov 2025 (Ecclesia) – O Papa proclamou hoje São João Henrique Newman (1801-1890), cardeal inglês convertido do anglicanismo, como 38.º doutor da Igreja, no contexto das celebrações do Jubileu do Mundo Educativo.
A fórmula solene foi pronunciada durante o rito próprio, após a apresentação biográfica feita pelo prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, que destacou “o contributo decisivo para a renovação da teologia e para a compreensão da doutrina cristã no seu desenvolvimento” do novo doutor, definido como “um místico de grande modernidade”.
“Nós, acolhendo o desejo de muitos irmãos no episcopado e de muitos fiéis de todo o mundo, após ter obtido o parecer do Dicastério para as Causas dos Santos, após longa reflexão e tendo alcançado uma convicção plena e segura, com a plenitude da autoridade apostólica, declaramos São João Henrique Newman doutor da Igreja universal. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, disse Leão XIV, sentado, como sinal da sua autoridade pontifícia.
A declaração foi saudada com uma salva de palmas por milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, para a Missa da solenidade de Todos os Santos.
São João Henrique Newman foi também proclamado como copadroeiro do mundo educativo, juntamente com São Tomás de Aquino.
O testemunho intelectual e espiritual do novo doutor foi recordado no livreto oficial da cerimónia, distribuído pelo Vaticano.
O texto biográfico evoca a relevância dos “Sermões de Oxford”, a conversão ao catolicismo em 1845 e as obras maiores do cardeal inglês: “Nesse mesmo ano, publicou a obra ‘Ensaio sobre o desenvolvimento da doutrina cristã’, que é considerada por muitos o ápice da sua pesquisa sobre o sentido da história, do homem e de sua relação com Deus.”
No campo da consciência, a ‘Carta ao Duque de Norfolk” (1875) desenvolveu a defesa do dogma da infalibilidade pontifícia.
A liturgia incluiu o hino ‘Lead, Kindly Light’, composto pelo próprio cardeal Newman entre 1832 e 1833.
Um doutor é alguém reconhecido pela Igreja Católica como exemplo de “santidade de vida, ortodoxia doutrinal e ciência sagrada”.
O título foi atribuído a Santo António de Lisboa pelo Papa Pio XII, em 1946.
O cardeal Newman foi canonizado pelo Papa Francisco a 13 de outubro de 2019, na Praça de São Pedro.
A biografia oficial publicada nessa celebração sublinhava os “importantes contributos” do santo inglês para a “vida intelectual da Igreja, tanto como anglicana quanto católica”.
“Ele continua a ser uma das maiores influências no desenvolvimento do pensamento teológico católico e é considerado profético, especialmente no que diz respeito ao tema da formação adequada da consciência”, podia ler-se.
O futuro doutor da Igreja foi beatificado por Bento XVI a 19 de setembro de 2010, em Birmingham (Reino Unido); a sua festa litúrgica celebra-se anualmente a 9 de outubro, data que assinala a conversão do anglicanismo ao catolicismo.
Forte influência na vida e pensamento de Joseph Ratzinger, Newman é reconhecido como um escritor, pregador e teólogo, a que James Joyce apelidava o “maior dos escritores ingleses em prosa”.
Nascido em Londres a 21 de fevereiro de 1801 e falecido a 11 de agosto de 1890, John Henry Newman foi uma das figuras principais do Movimento de Oxford, que procurava aproximar das suas raízes a Igreja Anglicana da Inglaterra, na qual era clérigo.
Após a sua conversão foi ordenado padre católico em Roma, no ano de 1847, e encorajado pelo Papa Pio IX regressou à Inglaterra, onde fundou o oratório de S. Filipe Néri.
Escritor prolífico, Newman abordou diversas matérias com destaque para a relação entre fé e razão, a natureza da consciência e o desenvolvimento da doutrina cristã, obras que lhe valeram grande reconhecimento do mundo católico e que influenciaram o Concílio Vaticano II, nos anos 60 do século XX.
Em 1879, com 78 anos de idade, foi criado cardeal por Leão XIII.
A sua autobiografia espiritual “Apologia pro vita sua” (1864) é vista por muitos como a maior obra do género desde as “Confissões”, de Santo Agostinho.
OC
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