Vaticano: Papa pede «verdadeiro jejum», que ajude os outros

Francisco renova alertas para hipocrisia de quem procura reconhecimento exterior sem conversão interior

Cidade do Vaticano, 03 mar 2017 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje no Vaticano que a penitência a que os cristãos são chamados na Quaresma passa pela ajuda aos outros e pela conversão interior, em vez de manifestações exteriores sem conteúdo.

“Jesus diz ‘Quando rezares, entra no teu quarto, fecha a porta, no escondido; quando deres esmola, não faças soar a trombeta, quando jejuares não fiques triste. É o mesmo que dizer: Por favor, quando fizeres uma boa obra não aceites gratificação por esta boa obra, é somente para o Pai”, assinalou, na homilia da Missa a que presidiu na capela da Casa de Santa Marta.

Na primeira sexta-feira de Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, marcada pelos convites à abstinência e penitência, o Papa quis precisar que o “verdadeiro jejum” é um “coração penitente”.

Francisco citou uma passagem da Bíblia, lida na celebração, em que Deus repreende a falsa religiosidade dos que jejuam enquanto cuidam dos próprios negócios e oprimem os trabalhadores, fazendo “negócios sujos”.

“Nós também fazemos o mesmo quando não pagamos o que é justo à nossa gente. Tiramos uma gratificação das nossas penitências, dos nossos gestos, do jejum, da esmola: a gratificação da vaidade, de mostrar-se. Isso não é autenticidade, é hipocrisia”, advertiu.

O Papa observou que o “jejum” proposto pela Bíblia passa por “quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, e romper todo tipo de sujeição”.

“Não consiste talvez em dividir o pão com o faminto, deixar entrar em casa os pobres, os sem-abrigo, vestir o que está nu sem descurar os próprios parentes? Pensemos nestas palavras, pensemos em nosso coração, como nós jejuamos, rezamos, damos esmolas”, desafiou.

A intervenção sublinhou que um jejum “hipócrita” é próprio dos que “cometem injustiças, não são justos, exploram as pessoas”.

“‘Mas eu sou generoso, farei uma bela oferta à Igreja’. Sim, mas diz-me: tu pagas o que é justo às tuas empregadas domésticas? Pagas aos teus funcionários por baixo da mesa ou como quer a lei, para que possam dar de comer aos seus filhos?’”, observou, no tradicional tom coloquial das homilias matutinas em Santa Marta.

Francisco falou de um caso ocorrido logo após a II Guerra Mundial com padre Arrupe, jesuíta, quando era missionários no Japão: um homem de negócios fez-lhe um donativo para atividades de evangelização, acompanhado por um fotógrafo e um jornalista, mas o envelope continha somente 10 dólares.

“Vai ajudar-nos também pensar no que sente um homem depois de um jantar, que custou 200 euros, por exemplo, e volta para casa, vê um faminto, não olha para ele e continua a caminhar”, concluiu.

OC

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Agência ECCLESIA

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