Vaticano: Papa pede sacerdotes solidários com as «lágrimas» da humanidade

Francisco presidiu à Missa Crismal, na Basílica de São Pedro, com reflexão sobre a «compunção» perante os próprios pecados

Foto EPA/Lusa

Cidade do Vaticano, 14 abr 2022 (Ecclesia) – O Papa pediu hoje que os sacerdotes sejam misericordiosos e solidários com as “lágrimas” da humanidade, falando durante a celebração da Missa Crismal, a que presidiu na Basílica de São Pedro.

“Queridos irmãos, a nós – seus Pastores –, o Senhor não pede juízos de desprezo contra quem não crê, mas amor e lágrimas por quem vive afastado. Quando as situações difíceis que vemos e vivemos, a falta de fé, os sofrimentos que tocamos, entram em contacto com um coração compungido, decididamente não suscitam a polémica, mas a perseverança na misericórdia”, referiu, na homilia da celebração.

“O Senhor procura, especialmente entre as pessoas que lhe estão consagradas, quem chore os pecados da Igreja e do mundo, fazendo-se instrumento de intercessão por todos”, insistiu.

Francisco, que leu a sua própria intervenção, de vários minutos, alertou para atitudes de “dureza e recriminação, egoísmo e ambições, de rigidez e insatisfações” na vida sacerdotal.

“Irmãos, pensemos em nós próprios e interroguemo-nos quão presente estejam a compunção e as lágrimas no nosso exame de consciência e na nossa oração. Perguntemo-nos se, com o passar dos anos, aumentam as lágrimas”, apelou.

Quem está compungido no coração, sente-se cada vez mais irmão de todos os pecadores do mundo, sente-se mais irmão, sem qualquer aparência de superioridade nem dureza de juízo, mas sempre com desejo de amar e reparar”.

No dia em que a Igreja Católica inicia o Tríduo Pascal, evocando a instituição da Eucaristia e do sacerdócio, Francisco disse que “a cura do pastor acontece quando, feridos e arrependidos, se deixam perdoar por Jesus”.

“Hoje, numa sociedade secular, corremos o risco de ser muito ativos e, ao mesmo tempo, sentir-nos impotentes, com o resultado de perdermos o entusiasmo e sermos tentados a deixar de remar, fechar-nos em lamentos”, insistiu.

O Papa fez referência ao facto de esta ser a Quinta-feira Santa do Ano da Oração, que prepara o Jubileu de 2025, para explicar a opção de centrar a sua homilia na “compunção” interior.

“Não é um sentimento de culpa que te lança por terra, nem uma série de escrúpulos que paralisa, mas uma picada benéfica que queima intimamente e cura, pois o coração, quando se dá conta do próprio mal e se reconhece pecador, abre-se, acolhe a ação do Espírito Santo”, precisou.

“Quem retira a máscara e se deixa olhar por Deus no coração, recebe o dom destas lágrimas, as águas mais santas depois das do Batismo”, acrescentou.

Francisco destacou que este choro é diferente de “sentir pena” de si mesmo, mas um sinal de arrependimento pelo pecado, pedindo atenção para não cair na “hipocrisia clerical”.

A compunção é o remédio, porque nos reconduz à verdade de nós mesmos, de tal modo que a profundidade do nosso ser pecador revele a realidade infinitamente maior do nosso ser perdoado”.

Foto: Lusa/EPA

O Papa deixou aos cerca de 2 mil membros do clero que participaram nesta Eucaristia a recomendação de olhar para a vida para além da “perspetiva de eficiência e imediatismo”, abrindo tempo e espaço para uma “oração que não seja obrigatória e funcional, mas livre, calma e prolongada”.

“Obrigado, queridos sacerdotes, obrigado, pelo vosso coração aberto e dócil; obrigado pelas vossas fadigas e o vosso pranto; obrigado porque levais a maravilha da misericórdia de Deus – perdoai sempre, sede misericordiosos – aos irmãos e irmãs do nosso tempo. Que o Senhor vos console, confirme e recompense”, concluiu.

Após a homilia, os concelebrantes renovaram as promessas sacerdotais e o Papa abençoou o óleo dos catecúmenos e enfermos e consagra o do crisma, usado tanto na administração dos sacramentos do Batismo e da Confirmação como nas ordenações ou na consagração de uma igreja.

A cerimónia prolongou-se por cerca de uma hora e 45 minutos; esta tarde, Francisco vai presidir à Missa vespertina de Quinta-feira Santa, com o rito de “lava-pés”, de forma privada, na prisão feminina de Rebibbia, em Roma.

OC

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Agência ECCLESIA

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