Vaticano: Papa pede investigações sobre possível genocídio em Gaza 

Novo livro para o Jubileu 2025 aborda desafios das migrações, criticando discursos políticos que ignoram exploração de recursos dos países mais pobres 

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 17 nov 2024 (Ecclesia) – O Papa apela, num livro que vai publicar para o Jubileu 2025, a uma investigação internacional sobre a intervenção militar israelita em Gaza, desde outubro de 2023, para determinar se está em causa um genocídio. 

“De acordo com alguns especialistas, o que está a acontecer em Gaza tem as caraterísticas de um genocídio. Deve ser cuidadosamente investigado para determinar se se enquadra na definição técnica formulada por juristas e organismos internacionais”, refere, num texto antecipado hoje pelo jornal italiano ‘La Stampa’ e pelo portal de notícias do Vaticano.  

O livro “A esperança não desilude. Peregrinos para um mundo melhor”, editado por Hernán Reyes Alcaide (Edições Piemme), será publicado na terça-feira, em vários países, tendo em vista o próximo Ano Santo, convocado pelo Papa. 

Na obra, Francisco aborda temas como a família, a educação, a situação sociopolítica e económica do planeta, as migrações, a crise climática, as novas tecnologias e a paz. 

Este domingo, após a recitação do ângelus, o Papa apelou à oração pela paz “na martirizada  Ucrânia, na Palestina, em Israel, no Líbano, em Myanmar, no Sudão”.

“A guerra desumaniza, leva a tolerar crimes inaceitáveis: que os governantes escutem o grito dos povos, que pedem a paz”, apelou.

A obra recorda as vítimas da “fome” em Gaza e todos os que fugiram da guerra na Ucrânia, “sobretudo nos primeiros meses do conflito”, em 2022. 

“Não é por acaso que estes novos ventos de guerra sopram no Velho Mundo, quando as fileiras das testemunhas diretas da barbárie dos totalitarismos são cada vez mais reduzidas ou, pior ainda, quando são marginalizadas, como peças de museu, sem poderem trazer os seus preciosos testemunhos – que muitos até trazem na pele – para alguns dos debates que marcam a agenda política de hoje, tal como acontecia há pouco mais de cem anos”, adverte. 

O Papa reflete sobre os desafios das migrações, na Europa, defendendo que “nenhum país pode ser deixado sozinho e ninguém pode pensar em abordar a questão isoladamente através de leis mais restritivas e repressivas, por vezes aprovadas sob a pressão do medo ou em busca de vantagens eleitorais”. 

O novo livro aponta o dedo às “filiais que saqueiam os territórios dos países pobres e enviam os seus produtos e receitas para empresas-mãe nos países desenvolvidos”. 

“Quando ouvimos este ou aquele líder a lamentar os fluxos migratórios de África para a Europa, quantos desses mesmos líderes questionam o neocolonialismo que ainda hoje existe em muitas nações africanas?”, questiona Francisco.  

Uma vez acolhidos e depois protegidos, os migrantes devem ser promovidos. Ao mesmo tempo que peço que se lhes abram as portas, exorto também a que se favoreça o seu desenvolvimento integral, que se lhes dê a possibilidade de se realizarem como pessoas em todas as dimensões que constituem a humanidade querida pelo Criador”.  

O Papa deixa votos de que o próximo Jubileu seja uma celebração da esperança, levando todos os católicos a construir um mundo “mais fraterno”, no qual “a dignidade do ser humano prevalece sobre toda a divisão e está em harmonia com a mãe terra”. 

OC 

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Agência ECCLESIA

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