Francisco questiona campanhas de «mistificação», que exploram alcance das redes digitais
Cidade do Vaticano, 06 out 2022 (Ecclesia) – O Papa destacou hoje no Vaticano a “fama de santidade” nas comunidades católicas, para os processos de canonização, mas alertou para campanhas de “mistificação”, que exploram o alcance das redes digitais.
“Nos nossos dias, o correto acesso aos meios de comunicação pode favorecer o conhecimento da experiência evangélica de um candidato à beatificação ou canonização. No entanto, no uso dos meios digitais, especialmente as redes sociais, pode haver o risco de exagero e mistificação, ditados por interesses menos nobres”, disse, numa audiência aos participantes no congresso ‘A Santidade Hoje’, organizado pelo Dicastério para as Causas dos Santos.
O processo para a canonização tem uma primeira etapa na diocese em que faleceu o fiel católico, exigindo-se o que a Igreja designa por “fama de santidade” (fama sanctitatis): cinco anos após a sua morte, qualquer católico ou grupo de fiéis pode iniciar o processo, através de um postulador, constituído mediante mandato de procuração e aprovado pelo bispo local.
Francisco destacou hoje que os santos nascem da vida concreta das comunidades cristãs, numa “quotidianidade feita de família, estudo, trabalho, vida social, económica e política”.
“É importante que cada Igreja particular seja solícita em identificar e valorizar os exemplos de vida cristã amadurecidos no seio do povo de Deus, que possui desde sempre um particular ‘faro’ para reconhecer estes modelos de santidade, testemunhas extraordinárias do Evangelho. Por isso, é preciso ter em justa consideração o consenso do povo à volta destas figuras cristãmente exemplares”, sustentou.
O Papa sublinhou que esta “fama sanctitatis” não vem da hierarquia, mas da “opinião comum e difundida entre os fiéis a propósito da integridade de vida duma pessoa, vista como testemunha de Cristo e das bem-aventuranças evangélicas”.
“É necessário verificar se tal fama de santidade é espontânea, estável, duradoura e difundida numa parte significativa da comunidade cristã. Com efeito, só é genuína quando resiste às mudanças do tempo, às modas do momento e gera sempre efeitos salutares para todos, como podemos constatar na piedade popular”, precisou.
Francisco observou que, quando os fiéis estão convencidos da santidade dum cristão, “recorrem – até de forma maciça e apaixonada – à sua intercessão celeste”.
“O atendimento da oração por parte de Deus representa uma confirmação de tal convicção”, acrescentou.
Os Santos são pérolas preciosas. Sempre vivos e atuais, não perdem jamais o seu valor, representando um comentário fascinante do Evangelho. A sua vida é como um catecismo por imagens, a ilustração desta Boa Nova que Jesus trouxe à humanidade: Deus é nosso Pai e ama todos com imenso amor e ternura infinita”.
Durante a conferência sobre ‘A Santidade Hoje’ foi anunciada a instituição de uma Comissão para Testemunhas da Fé para o Ano Santo de 2025 – à imagem da que tinha sido criada, a pedido de São João Paulo II, por ocasião do Jubileu de 2000.
O cardeal Marcello Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, explica ao portal de notícias do Vaticano que a comissão visa apresentar “figuras de homens e mulheres que, embora não canonizados, manifestaram fortemente a sua fé”.
A nova comissão vai ficar ligada, de forma estável, à atividade do dicastério.
“Dou um exemplo: Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor da Igreja que foi morto porque se opunha ao nazismo. A Igreja não o proclama mártir, porque ele não era católico. Entretanto, ele é uma figura emergente como testemunho cristão”, indicou o cardeal Semeraro.
A conferência, iniciada na segunda-feira, debateu a definição atual das “virtudes heroicas” e da “fama de santidade”, na era digital.
OC