Francisco exortou participantes na audiência a não se contentarem «com um pouco de filantropia»
Cidade do Vaticano, 15 jun 2024 (Ecclesia) – O Papa recebeu esta manhã, numa audiência no Vaticano, um grupo de diretores executivos e funcionários de grande empresas e bancos, pedindo-lhes para não esquecerem “os mais pobres e os descartados”.
“A ‘economia circular’ tornou-se uma palavra-chave, apelando à reutilização e à reciclagem dos resíduos. Mas enquanto reciclamos materiais e descartamos materiais, ainda não aprendemos – permitam-me a expressão – a ‘reciclar’ e não descartar pessoas, trabalhadores, especialmente os mais frágeis, para os quais a cultura do descarte muitas vezes prevalece”, afirmou Francisco, num discurso publicado pela sala de imprensa da Santa Sé.
O Papa pediu aos presentes para “desconfiarem de uma certa ‘meritocracia’ que é utilizada para legitimar a exclusão dos pobres, julgados demeritórios, ao ponto de considerar a própria pobreza como um defeito” e exortou-os a não se contentarem “com um pouco de filantropia”, que “é muito pouco”.
“O desafio consiste em incluir os pobres nas empresas, em transformá-los em recursos para benefício de todos. Isso é possível. Sonho com um mundo em que os descartados possam tornar-se protagonistas da mudança, mas parece-me que Jesus já o fez, não acham?”, questionou.
Francisco convidou ainda os diretores executivos e funcionários de grandes empresas e bancos a colocarem “o ambiente e a terra” no centro da atenção e responsabilidade que desempenham.
“Vivemos um período de grave crise ambiental que depende de muitos indivíduos e fatores, entre os quais as opções económicas e empresariais do passado e do presente. Já não basta cumprir as leis dos Estados, que avançam demasiado lentamente: é preciso inovar antecipando o futuro, com escolhas corajosas e prospetivas que possam ser imitadas. A inovação do empresário hoje em dia deve ser, antes de mais, a inovação no cuidado da nossa casa comum”, assinalou.
O Papa deixou ainda o desafio ao grupo participante na audiência para ter em atenção os jovens, que se encontram frequentemente entre os pobres na atualidade: “pobres de recursos, de oportunidades e de futuro”.
“Convido-vos a serem generosos, a acolherem os jovens nas vossas empresas, dando-lhes uma amostra do futuro para que toda uma geração não perca a esperança”, pediu.
Na audiência, Francisco salientou também que “as grandes empresas são entidades que influenciam a dinâmicas das relações internacionais”, acrescentando que “tomam decisões que afetam milhares e milhares de trabalhadores e investidores”, e que o fazem “cada vez mais à escala mundial”.
“O poder económico está interligado com o poder político. Com efeito, para além das escolhas de consumo, poupança e produção, as grandes empresas afetam também a sorte dos governos, as políticas públicas nacionais e internacionais e a sustentabilidade do desenvolvimento”, indicou.
Segundo o Papa, é preciso tomar consciência desta realidade e olhá-la de forma crítica, “com discernimento, para poder exercer plenamente a responsabilidade pelos efeitos diretos e indiretos das suas escolhas”.
No final da audiência o Papa disse ao grupo de diretores executivos e funcionários de grande empresas e bancos que têm em mãos “uma grande e enorme responsabilidade”.
“Que o Senhor vos ajude a exercê-la bem para fazer escolhas corajosas, a favor do ambiente, dos pobres e dos jovens. Este será um investimento muito frutuoso, também económico”, concluiu.
LJ