Vaticano: Papa intervém para travar disputa litúrgica em comunidade da Índia

Francisco alerta para risco de quebra de comunhão na arquieparquia siro-malabar de Ernakulam

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 07 dez 2023 (Ecclesia) – O Papa lançou hoje uma mensagem em vídeo para a comunidade católica de Ernakulam-Angamaly, na Índia, apelando ao fim da disputa litúrgica que ameaça a unidade nesta arquieparquia siro-malabar, que poderia levar à criação de uma “seita”.

“Estejam atentos para que o diabo não os induza a transformar-se numa seita. Sejam Igreja, não se tornem uma seita. Não obriguem a autoridade eclesiástica competente a tomar nota de que saíram da Igreja”, adverte, numa mensagem em vídeo.

Francisco admite que esta forma de se dirigir a uma comunidade é “algo invulgar”, mas sublinha que o momento exige que a sua posição seja entendida de forma “clara”.

A intervenção indica que, se a situação se mantiver, “sanções relevantes terão de ser tomadas”.

“Não quero chegar a isso”, refere o Papa.

A comunidade Siro-Malabar é uma Igreja Católica Oriental ‘sui iuris’ (de direito próprio), em comunhão com o Papa.

Esta é a segunda maior Igreja Católica Oriental no mundo, com uma população total de cerca de 3,8 milhões de católicos (dos quais 2,9 milhões vivem na Índia).

A questão no centro da divisão entre os fiéis de Ernakulam está na forma de celebrar a Santa Qurbana, a Missa da tradição local, que se tornou mais próxima da adotada na Igreja de rito latino (como em Portugal), após o Concílio Vaticano II (1962-1965).

O Sínodo da Igreja arquiepiscopal maior siro-malabar, celebrado em 2021, tentou uma solução de compromisso, com a liturgia da Palavra e a parte conclusiva celebradas pelo sacerdote voltado para o povo, enquanto a liturgia eucarística seria celebrada voltado para o Oriente, olhando para o altar, indica o portal de notícias do Vaticano.

Na Arquieparquia de Ernakulam-Angamaly muitos sacerdotes e fiéis continuam a assumir uma “particularidade litúrgica”, com o celebrante sempre voltado para a assembleia.

A divergência obrigou o Papa a enviar D. Cyril Vasil, em agosto, para “resolver a situação” da arquieparquia, assegurando a implementação da reforma litúrgica, mas o arcebispo sofreu agressões, sendo atingido por ovos e outros objetos.

“Como pode ser a Eucaristia se a comunhão é rompida, se há falta de respeito pelo Santíssimo Sacramento, entre lutas e rixas?”, pergunta o Papa.

Francisco espera que, no próximo Natal, esta comunidade aceite caminhar com o resto da Igreja, respeitando todas as indicações dos seus responsáveis.

Ainda hoje, o Papa aceitou a renúncia do cardeal George Alencherry ao governo pastoral da Igreja Siro-Malabar Arquiepiscopal Maior, nomeando ainda um novo administrador apostólico para a Arquieparquia de Ernakulam-Angamaly.

OC

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Agência ECCLESIA

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