Vaticano: Papa insiste na urgência do desarmamento e diz que guerra é «absurda»

«A fragilidade humana tem o poder de nos tornar mais lúcidos», refere Francisco, em carta ao diretor do «Corriere della Sera»

Foto: Lusa/EPA

Roma, 18 mar 2025 (Ecclesia) – O Papa insistiu na necessidade do desarmamento, afirmando que a guerra é “absurda”, numa carta ao diretor do jornal italiano ‘Corriere della Sera’, divulgada hoje.

“Quero agradecer-lhe as palavras de proximidade com que quis estar presente neste momento de doença em que, como tive ocasião de dizer, a guerra parece ainda mais absurda”, refere Francisco, desde o Hospital Gemelli, em mensagem enviada a Luciano Fontana.

A carta evoca o texto do ângelus de 2 de março e sublinha que, “enquanto a guerra apenas devasta as comunidades e o ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de sangue novo e de credibilidade”.

“Por outro lado, as religiões podem aproveitar a espiritualidade dos povos para reavivar o desejo de fraternidade e de justiça, a esperança de paz”, acrescenta Francisco.

A fragilidade humana tem o poder de nos tornar mais lúcidos em relação ao que dura e ao que passa, ao que nos faz viver e ao que mata. Talvez seja por isso que tantas vezes tendemos a negar os limites e a evitar as pessoas frágeis e feridas: elas têm o poder de questionar a direção que escolhemos, como indivíduos e como comunidade”.

A missiva, com data de 14 de março, foi divulgada esta manhã pelo ‘Corriere della Sera’ e pelo portal de notícias do vaticano.

O Papa apela aos profissionais da comunicação para que “sintam a importância das palavras”.

“Elas nunca são apenas palavras: são atos que constroem ambientes humanos. Podem ligar ou dividir, servir a verdade ou servir-se dela. Temos de desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a terra. Há uma grande necessidade de reflexão, de calma, de um sentido de complexidade”, sustenta.

“Tudo isto exige empenhamento, trabalho, silêncio, palavras. Sintamo-nos unidos neste esforço, que a Graça celeste não deixará de inspirar e acompanhar”, conclui Francisco.

A carta surge num momento em que decorrem negociações para um cessar-fogo na Ucrânia e horas depois de uma vaga de ataques do exército israelita contra a Faixa de Gaza, que causou a morte de mais de 330 pessoas.

Francisco está internado no Gemelli desde 14 de fevereiro, tendo sido diagnosticado com uma infeção polimicrobiana das vias respiratórias, que se agravou para uma pneumonia bilateral.

O Papa deixou de ter prognóstico reservado a 10 de março, após a estabilização da infeção respiratória, registando melhorias, mas continua sem previsão de alta médica, dado que ainda necessita de tratamento em ambiente hospitalar, num quadro definido como “complexo”.

OC

Ucrânia: Vaticano apela a «diálogo sincero» pela paz, «sem condições prévias de qualquer tipo»

 

Partilhar:
Scroll to Top