Francisco assinalou que sistemas económicos e financeiros «muitas vezes ridicularizam os princípios evangélicos da justiça social e da caridade»
Cidade do Vaticano, 07 jan 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco recebeu hoje em audiência empresários franceses que incentivou a contribuírem para o bem de todos, mesmo que as obrigações dos sistemas económicos e financeiros, muitas vezes, ridicularizem “os princípios evangélicos da justiça social e da caridade”.
“O bem comum é certamente um elemento decisivo no seu discernimento e nas suas escolhas como líderes, mas deve aceitar as obrigações impostas pelos sistemas económicos e financeiros atualmente em vigor, que muitas vezes ridicularizam os princípios evangélicos da justiça social e da caridade”, disse Francisco aos empresários franceses, na Sala Clementina.
No discurso divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa afirmou que considera “muito bonito e corajoso” que alguns empresários e dirigentes empresariais “tenham no coração o serviço de todos e não apenas de interesses privados ou de círculos restritos”, no mundo de hoje, muitas vezes marcado pelo individualismo, pela indiferença e “até pela marginalização das pessoas mais vulneráveis”.
A audiência realizou-se no âmbito de uma peregrinação que os empresários franceses estão a realizar a Roma, com o tema do bem comum.
Francisco partilhou com os empresários alguns ensinamentos do Evangelho, para ajudá-los a cumprir o seu papel de líderes segundo o coração de Deus e ao longo do discurso falou sobre “ideal e realidade”, “autoridade e serviço”, conceitos que parecem estar sempre em tensão.
Sobre o que é ideal e realidade, o Papa explicou que “’diante do escândalo da manjedoura’ Maria não desanimou, não se rebelou”, mas reagiu protegendo e meditando em seu coração, “demonstrando uma fé adulta, que se fortalece na provação”.
Para explicar autoridade e serviço, Francisco recordou a passagem em que os apóstolos discutem quem é o maior entre eles e Jesus diz: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos”.
“A missão do empresário cristão se assemelha, em muitos aspetos, à do pastor, de quem Jesus é o modelo, e que sabe ir à frente do rebanho para indicar o caminho, sabe ficar no meio do rebanho para ver o que está a acontecer, e sabe ficar atrás, para garantir que ninguém perde o contacto”, desenvolveu.
O Papa recordou que muitas vezes exortou padres e bispos a terem “o cheiro das ovelhas”, a mergulharem na realidade daqueles que lhes foram confiados, e acredita que este conselho também é válido para os empresários.
Neste contexto, encorajou-os a “estarem próximos” dos colaboradores e trabalhadores, a interessarem-se pelas suas vidas, “a estarem conscientes das suas dificuldades, sofrimentos, angústias, mas também de suas alegrias, projetos e esperanças”.
“Exercer a autoridade como um serviço requer partilhá-la. Embora o exercício da autoridade exija a tomada de decisões corajosas e, por vezes, na primeira pessoa, a subsidiariedade permite a cada um dar o melhor de si, sentir-se envolvido, assumir a sua parte de responsabilidade e contribuir para o bem de todos”, desenvolveu o Papa Francisco.
Aos empresários franceses disse ainda que sabe que o Evangelho pode ser “exigente e difícil” de ser vivido num mundo profissional e competitivo.
CB