Leão XIV, bispos do Japão e dos EUA apelam à abolição das armas nucleares
Lisboa, 05 ago 2025 (Ecclesia) – O Papa enviou uma mensagem ao bispo de Hiroxima, por ocasião do 80º aniversário dos bombardeamentos atómicos sobre o território japonês, na II Guerra Mundial, evocando os “horrores” provocados pelos ataques.
“Embora tenham passado muitos anos, as duas cidades continuam a ser lembranças vivas dos profundos horrores causados pelas armas nucleares. As suas ruas, escolas e casas ainda apresentam cicatrizes — tanto visíveis como espirituais — daquele fatídico agosto de 1945”, escreve Leão XIV, num texto divulgado hoje pelo Vaticano.
O primeiro pontífice norte-americano na história da Igreja Católica dirige-se a D. Alexis Mitsuru Shirahama, bispo de Hiroxima, e a todos os que vão evocar o aniversário dos bombardeamentos atómicos, que também atingiram Nagasáqui.
“Expresso os meus sentimentos de respeito e afeto pelos sobreviventes hibakusha [vítimas atómicas], cujas histórias de perda e sofrimento são um apelo oportuno a todos nós para construirmos um mundo mais seguro e promovermos um clima de paz”, escreve o Papa.
A mensagem cita o Papa Francisco, realçando que “a guerra é sempre uma derrota para a humanidade”.
Leão XIV recorda também um sobrevivente de Nagasáqui, Takashi Nagai, para quem “a pessoa que ama é a pessoa ‘corajosa’ que não empunha armas”.
A verdadeira paz exige a corajosa renúncia às armas — especialmente aquelas com o poder de causar uma catástrofe indescritível. As armas nucleares ofendem a nossa humanidade comum e também traem a dignidade da criação, cuja harmonia somos chamados a salvaguardar.”

Estima-se que 140 mil pessoas tenham morrido no primeiro ataque atómico, contra Hiroxima, a 6 de agosto de 1945; três dias depois, forças norte-americanas levaram a cabo um segundo bombardeamento, em Nagasáqui, que causou mais de 70 mil mortos.
Milhares de pessoas viriam a sofre as consequências da radiação, até à atualidade.
Francisco visitou as duas cidades japonesas em novembro de 2019 e, no Memorial da Paz de Hiroxima, argentino afirmou que “o uso da energia atómica para fins bélicos é imoral, assim como também a posse de armas nucleares é imoral”.
À imagem do seu antecessor, Leão XIV fala das cidades japonesas como “símbolos da memória” que “exortam a rejeitar a ilusão de segurança baseada na destruição mútua assegurada”.
“Em vez disso, devemos forjar uma ética global enraizada na justiça, na fraternidade e no bem comum. É, portanto, minha oração que este solene aniversário sirva como um apelo à comunidade internacional para renovar o seu compromisso com a busca da paz duradoura para toda a nossa família humana”, conclui.
A respeito deste aniversário, os bispos católicos do Japão emitiram uma declaração sobre a abolição das armas nucleares, recordando que são “a única organização episcopal de um país que sofreu bombardeamentos atómicos em guerra”.
“Transportamos profundamente gravada no nosso coração a pesada história e a dor sofridas pelos sobreviventes das bombas atómicas e pelos cidadãos de Hiroxima e Nagasáqui, e declaramos o nosso firme compromisso com a abolição das armas nucleares”, pode ler-se.
Em Hiroxima e Nagasáqui, muitas vidas se perderam nos bombardeamentos atómicos de 1945, e muitas pessoas ainda vivem com o sofrimento e as consequências dos bombardeamentos. Esta tragédia não se deve repetir.”




Também a Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América assinalou o 80º aniversário da utilização de armas atómicas, contra a população japonesa, pedindo “esforços para trabalhar pela conversão do coração, necessária para um compromisso global com a paz duradoura e, portanto, a eliminação das armas nucleares”.
D. Timothy P. Broglio, presidente do organismo, deseja que “as atitudes e a ausência de diálogo que conduziram à utilização de armas atómicas há 80 anos possam dar lugar à compreensão mútua, à construção da paz e à cooperação internacional”.
“Ao celebrarmos este triste aniversário, reconhecemos a ameaça contínua das armas nucleares e a sua proliferação. Devemos renovar os nossos esforços para trabalhar pela conversão do coração necessária para um compromisso global com a paz duradoura e, portanto, com a eliminação das armas nucleares”, acrescenta.
OC