Vaticano: Papa está a mudar comunicação da Igreja, diz especialista

Padre Antonio Spadaro, que entrevistou Francisco, elogia capacidade de criar empatia e linguagem que se enquadra nas redes sociais

Lisboa, 03 out 2013 (Ecclesia) – O jesuíta italiano Antonio Spadaro, autor da primeira entrevista de fundo ao Papa, disse à Agência ECCLESIA que Francisco está a mudar a comunicação da Igreja ao transformar os recetores da mensagem em protagonistas.

“O Papa ultrapassou o conceito do púlpito, da Igreja que é exclusivamente emissora de uma mensagem, que está a pregar do púlpito, de maneira distante das pessoas. Não, a sua forma de comunicar é típica das redes sociais, ainda que não tenha nenhum contacto com as tecnologias”, declarou o autor, diretor da revista ‘Civiltà Cattolica’ e docente universitário.

Para o especialista na investigação em media digitais, criador do conceito de “ciberteologia”, até há algum tempo, “a comunicação significava transmitir, agora significava compartilhar”.

“Nisso, o Papa é extraordinário. Disse numa entrevista que Francisco não comunica, o Papa cria acontecimentos comunicativos, nos quais aqueles que recebem a mensagem se tornam atores e não simplesmente espetadores”, sublinha.

A este respeito, o padre Spadaro recorda o momento em que o Papa aparece na varanda da Basílica de São Pedro, na tarde da sua eleição, a 13 de março, quando antes de dar a sua bênção se “inclinou” para receber a oração das pessoas que estavam na praça.

O sacerdote reuniu-se com o Papa em três ocasiões, em agosto, para a entrevista que viria a ser publicada a 19 de setembro nas revistas dos jesuítas, incluindo a portuguesa ‘Brotéria’, mas considera “impossível” entrevistar Francisco.

“Na realidade, o Papa não consegue estar dentro de esquemas demasiado rígidos” de ‘pergunta-resposta’, explica.

O investigador destaca que Francisco “exprime uma grande autoridade, mas sem qualquer distância”, ou seja, “falar com ele é perceber a sua autoridade, de pontífice”.

O Papa, acrescenta, “foi totalmente livre e aberto, disponível para qualquer questão e foi uma conversa muito aberta”.

Antonio Spadaro sustenta que Francisco “não tem ideias claras, a priori, distintas” sobre o futuro da Igreja, mas “vive num processo de discernimento”.

O especialista, que esta sexta-feira vai encerrar as jornadas nacionais de Comunicações Sociais que estão a decorrer desde hoje em Fátima, sublinha que o sucessor de Bento XVI “comunica com total espontaneidade e imediatez”.

Para o docente na Universidade Gregoriana, de Roma, a sua investigação procura responder a uma questão “muito simples”: “Qual é o projeto de Deus na internet, isto é, qual é o seu significado no plano de Deus para a humanidade?”.

“A Igreja, na realidade, sempre percebeu a conexão profunda, vital, entre tecnologia e espiritualidade, somos nós que temos dificuldades para vivê-la a fundo”, acrescenta.

Segundo o consultor do Conselho Pontifício das Comunicações Sociais (Santa Sé), a Igreja é “chamada não a usar a rede, mas a viver neste ambiente”, o que significa “compreender como as questões religiosas, por exemplo – as perguntas de fé, as dúvidas, as tensões, hoje também se exprimem na internet”.

A entrevista ao padre Antonio Spadaro pode ser vista no próximo domingo, pelas 11h20, no programa ‘70×7’ (RTP 2), da Igreja Católica.

OC

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