Leão XIV conversou com jornalistas sobre temas ligados ao Médio Oriente, aborto, migrações e finanças da Santa Sé
Roma, 30 set 2025 (Ecclesia) – O Papa disse hoje esperar que o Hamas aceite a proposta “realista” de paz apresentada pelo presidente norte-americano Donald Trump, apelando ao cessar-fogo no Médio Oriente.
“Esperemos que aceitem. Até o momento, parece ser uma proposta realista. É importante, no entanto, que haja um cessar-fogo e a libertação dos reféns, mas há elementos que considero muito interessantes e espero que o Hamas aceite dentro do prazo estabelecido”, disse Leão XIV aos jornalistas que o esperavam à saída da residência pontifícia de Castel Gandolfo, arredores de Roma.
À imagem das semanas anteriores, o Papa passou a sua “folga” semanal neste local, falando à imprensa antes de regressar ao Vaticano.
A proposta de Trump, anunciada na segunda-feira, prevê um cessar-fogo imediato em Gaza, a retirada gradual do Exército israelita, a libertação total dos reféns em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinos e o fornecimento de ajuda humanitária através das Nações Unidas.
A proposta prevê ainda o desarmamento completo do Hamas e o estabelecimento de um governo de transição composto por tecnocratas palestinos e especialistas internacionais.
A proposta de Trump foi apoiada pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, rejeitando, contudo, a criação de um Estado da Palestina e a desmobilização de tropas de Israel “na maior parte” de Gaza.
A Santa Sé tem sido apologista de uma solução de dois Estados para Israel e a Palestina, com respeito pelo estatuto especial de Jerusalém, posição reiterada na Assembleia Geral da ONU, esta segunda-feira.
O Papa foi ainda questionado sobre a missão da Flotilha ‘Global Sumud’, os barcos ativistas que tentam levar ajuda a Gaza e romper o bloqueio naval imposto por Israel.
“É muito difícil, nota-se o desejo de responder a uma verdadeira emergência humanitária, mas há muitos elementos que, de todos os lados, dizem que esperamos que não haja violência, que as pessoas sejam respeitadas, o que é muito importante”, indicou.
Leão XIV respondeu a uma pergunta sobre a mudança do nome do Departamento da Defesa para “Departamento de Guerra” nos EUA, seu país natal, e sobre as declarações do secretário de guerra norte-americano, Pete Hegseth, numa reunião com altas patentes.
“Essa forma de falar é preocupante porque mostra sempre um aumento das tensões, essa mudança de vocabulário, de ministro da Defesa para ministro da Guerra. Esperamos que seja apenas uma forma de falar”, observou.
É claro que há um estilo de governo que quer mostrar força para pressionar e esperamos que funcione, mas que não haja guerra, é preciso trabalhar sempre pela paz.”
Ainda sobre a atualidade norte-americana, Leão XIV foi questionado sobre a atribuição, pelo cardeal Blaise Cupich, arcebispo de Chicago, de um prémio ao senador democrata Dick Durbin, que teve posições a favor da legalização do aborto.
“Não estou muito familiarizado com esse caso específico. Acho que é muito importante analisar o trabalho geral que um senador realizou durante, se não me engano, 40 anos de serviço no Senado dos Estados Unidos. Compreendo a dificuldade e as tensões, mas acho que, como eu mesmo já disse no passado, é importante analisar muitas questões relacionadas com o que é o ensinamento da Igreja”, começou por referir.
O Papa pediu “respeito mútuo” neste debate, para que todos procurem juntos, “tanto como seres humanos, nesse caso como cidadãos americanos ou cidadãos do Estado de Illinois, quanto como católicos, para dizer que é preciso realmente de examinar de perto todas essas questões éticas e encontrar o caminho a seguir como Igreja”.
Alguém que afirma ser contra o aborto, mas a favor da pena de morte, não é realmente pró-vida. Da mesma forma, alguém que afirma ser contra o aborto, mas concorda com o tratamento desumano dos imigrantes nos Estados Unidos, não sei se é pró-vida. Portanto, são questões muito complexas.”
Leão XIV falou também sobre o processo relativo à gestão de fundos da Santa Sé, que envolve, entre outros, o cardeal Giovanni Angelo Becciu, Reneé Brüllhart e Tommaso Di Ruzza, antigos responsáveis da Autoridade de Informação Financeira do Vaticano, os quais recorreram das sentenças em primeira instância.
“O processo deve seguir por diante no sistema judicial. Não pretendo interferir no processo. Há juízes, pessoas preparadas, advogados de defesa e esperamos que tudo corra bem”, disse o pontífice.
OC