Vaticano: Papa envia mensagem ao Fórum de Davos, com alerta sobre utilização da Inteligência Artificial 

Francisco aponta a «desenvolvimento mais saudável, mais humano, mais social e mais integral» 

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 23 jan 2025 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje aos líderes presentes no Fórum Económico Mundial, que decorre em Davos, para uma utilização responsável da Inteligência Artificial (IA), ao serviço de todos os países. 

“Os desenvolvimentos tecnológicos que não melhoram a vida de todos, mas que, pelo contrário, criam ou agravam as desigualdades e os conflitos, não podem ser considerados um verdadeiro progresso. Por isso, a IA deve ser colocada ao serviço de um desenvolvimento mais saudável, mais humano, mais social e mais integral”, escreve, num texto dirigido a Klaus Schwab, presidente do Fórum Económico Mundial, por ocasião do encontro anual que se realiza em Davos-Klosters, na Suíça, de 20 a 24 de janeiro. 

O texto, divulgado hoje pelo Vaticano, aponta ao tema escolhido, ‘Colaboração para a Era da Inteligência’, apresentando a IA “como instrumento não só de cooperação mas também de aproximação entre os povos”.  

A IA tem por objetivo imitar a inteligência humana que a concebeu, colocando assim um conjunto único de questões e desafios. Ao contrário de muitas outras invenções humanas, a IA é treinada com base nos resultados da criatividade humana, o que lhe permite gerar novos artefactos com um nível de competência e uma velocidade que muitas vezes rivalizam ou ultrapassam as capacidades humanas, levantando preocupações críticas sobre o seu impacto no papel da humanidade no mundo”.  

Francisco destaca que “os resultados que a IA pode produzir são quase indistinguíveis dos resultados dos seres humanos, o que levanta questões sobre o seu efeito na crescente crise da verdade no espaço público”. 

“Além disso, esta tecnologia foi concebida para aprender e fazer certas escolhas de forma autónoma, adaptando-se a novas situações e fornecendo respostas não previstas pelos seus programadores, levantando assim questões fundamentais sobre a responsabilidade ética, a segurança humana e as implicações mais vastas destes desenvolvimentos para a sociedade”, acrescenta. 

Apesar dos alertas, o Papa sublinha que “quando utilizada corretamente, a IA ajuda a pessoa humana a realizar a sua vocação, a sua liberdade e a sua responsabilidade”.  

A mensagem rejeita o que denomina de “paradigma tecnocrático”, que considera que todos os problemas do mundo podem ser resolvidos apenas com meios tecnológicos.  

“Neste paradigma, a dignidade humana e a fraternidade são frequentemente subordinadas à procura de eficiência, como se a realidade, a bondade e a verdade emanassem intrinsecamente do poder tecnológico e económico. No entanto, a dignidade humana nunca deve ser violada em nome da eficiência”, adverte Francisco. 

O progresso marcado pela aurora da IA exige uma redescoberta da importância da comunidade e um compromisso renovado de cuidar da casa comum que Deus nos confiou”. 

Francisco recorda as responsabilidades de governos e empresas, à medida que “a aplicação da IA e o seu impacto social se tornam mais claros”. 

“Devem ser dadas respostas adequadas a todos os níveis da sociedade, de acordo com o princípio da subsidiariedade, com os utilizadores individuais, as famílias, a sociedade civil, as empresas, as instituições, os governos e as organizações internacionais a trabalharem aos seus níveis adequados para garantir que a IA seja orientada para o bem de todos”, sustenta o Papa. 

OC 

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