Francisco convida a distinguir educação e instrução, convidando a valorizar outras linguagens
Cidade do Vaticano, 23 mai 2024 (Ecclesia) – O Papa encerrou hoje, no Vaticano, um encontro internacional dedicado à “Universidade do Sentido”, que criou em 2023, convidando a valorizar outras linguagens na educação.
“Há o perigo de confundir educação com instrução”, alertou Francisco, num diálogo com os participantes,
A fundação ‘Scholas Occurrentes’ e o CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina e das Caraíbas organizaram desde terça-feira, no Vaticano, um encontro dedicado à crise de “sentido” na sociedade contemporânea.
Francisco, que respondeu a questões colocadas por alguns dos participantes, reforçou a necessidade de trabalhar com “as três linguagens: do coração, das mãos e da mente”.
“Se, na educação, alguém não se move nestas três linguagens, fica a meio do caminho”, indicou.
O Papa convidou os jovens a “arriscar perante as dificuldades, para ver as coisas bonitas da vida, seguindo o caminho da poesia e da arte”.
Numa intervenção improvisada, em espanhol, o pontífice defendeu a importância de manter a dimensão “lúdica” da vida e a “capacidade de brincar”.
Francisco, filho e neto de imigrantes italianos na Argentina, recordou que jogava, na infância, com “uma bola de trapos”, um “símbolo da criatividade” das crianças.
A conversa abordou ainda o papel da arte na “busca do sentido”, tendo o Papa sublinhado a capacidade de “abrir horizontes” e “libertar” as pessoas.
“A arte abre-te, muito, torna-te compreensivo e faz o coração mais leve”, respondeu ao jovem que lhe apresentou a questão.
O Papa recitou de cor os primeiros versos de um poema (Everness) de Jorge Luis Borges, seu conterrâneo: “Só uma coisa não há, o esquecimento/Deus, que poupa o metal, poupa a escória/E regista na sua memória/As luas a vir e as que já foram”.
Francisco disse que a sua recordação mais antiga é a da avó ir ter com ele, todos os dias, após o nascimento de um irmão.
“Passava o dia com os avós, até depois do almoço. Aí falava-se piemontês, que foi a minha primeira língua”, disse.
Outra das questões abordou o impacto da dor e do sofrimento na vida, com o Papa a defender que “é preciso deixar sempre o coração aberto”.
“É preciso deixar espaço para a carícia”, perante a dor, e “dar lugar à esperança”, recomendou.
Para Francisco, quando a dor se fecha em si mesma, torna-se “venenosa”.
“Quando se deixa acompanhar, a dor abre-se à ajuda do outro e é fecundo”, acrescentou.
Durante o encontro, o Papa recebeu o documento que recolhe as conclusões da reunião internacional, entregue por responsáveis políticos e da sociedade civil.
A sessão conclusiva contou com momentos de animação musical, incluindo um rapper colombiano, e testemunhos dos participantes.
Uma jovem com deficiência motora deixou uma mensagem de “esperança”, sublinhando a importância de um Ensino Superior “inclusivo”.
“A educação é uma ferramenta poderosa, porque vai permitir-nos recorda o importante”, assinalou Isidora, apontando à “comunidade e ao que faz sentido”, para lá do imediatismo.
Durante os trabalhos, várias personalidades apresentaram palestras inspiradas pelo “sentido”, antes de grupos de debate sobre temas como governação, ação climática, programas-piloto e experiências da ‘Universidade do Sentido’, sustentabilidade, tecnologias e comunidades.
A ‘Universidade do Sentido’ uma instituição pública, local e global, intercultural, inter-religiosa e intergeracional gerida pela ‘Scholas Occurrentes’.
A iniciativa promovida pelo Papa visa promover a “o desenvolvimento de soft skills e recuperar o significado transcendente na cultura atual através de experiências e processos educativos formais e informais”, procurando “complementar e fortalecer o atual sistema universitário público-privado nesta perspetiva”.
A fundação pontifícia ‘Scholas Occurrentes’ é um movimento educativo internacional lançado globalmente em 2013, por Francisco, após a sua experiência como arcebispo de Buenos Aires, e assume o objetivo de “transformar a educação através de novas metodologias de aprendizagem, utilizando a tecnologia, o desporto e as artes para responder à sede de sentido do mundo”.
OC