Vaticano: Papa diz que porta do diálogo está sempre aberta, mesmo para o Estado Islâmico

Francisco falou aos jornalistas, no regresso de Estrasburgo, e confessou «dor» perante casos de abusos sexuais em Espanha

Cidade do Vaticano, 25 nov 2014 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje que a porta do diálogo está sempre aberta e admitiu conversar mesmo com os jihadistas do Estado Islâmico, apesar de considerar que isso será “quase impossível”.

“Eu nunca dou uma coisa por perdida, nunca. Talvez não se consiga manter um diálogo, mas nunca fecho a porta. É difícil, para não dizer impossível, mas a porta está sempre aberta”, referiu aos jornalistas que o acompanharam no voo de regresso a Roma, após a visita às instituições europeias sediadas em Estrasburgo, França.

O Papa reafirmou que a luta contra o terrorismo passa por “travar o agressor injusto”, com um “consenso internacional”, porque nenhum país tem o direito de fazer isso por si só.

“Quando cada Estado, por sua conta, se sente no direito de massacrar os terroristas, com os terroristas caem muitos que são inocentes. Isto é uma anarquia de alto nível que é muito perigosa”, advertiu.

Francisco declarou que o terrorismo é “uma das muitas coisas” que ameaçam a humanidade, da mesma forma que a “escravidão, uma realidade inserida no tecido social de hoje”.

“O trabalho escravo, o tráfico de pessoas, o comércio de crianças… É um drama, não fechemos os olhos a isto, a escravidão é hoje uma realidade, a exploração das pessoas”, alertou.

O Papa confirmou que interveio pessoalmente no caso que levou à detenção de quatro pessoas, entre as quais três padres, por alegados abusos sexuais cometidos em Granada, Espanha, depois de um jovem de 24 anos ter escrito a Francisco a contar o que lhe acontecera.

“Recebi [a carta], li isso, telefonei à pessoa e disse-lhe: tu amanhã vais ter com o bispo. E escrevi ao bispo para que começasse o trabalho, a fazer as investigações e a levar o caso por diante. Como o recebi? Com grande dor, gravíssima dor, mas a verdade é a verdade e não a devemos esconder”, respondeu aos jornalistas espanhóis.

A Arquidiocese de Granada referiu em comunicado que seguiu “escrupulosamente o procedimento previsto para estes casos pela disciplina canónica”.

Este domingo, na catedral diocesana, o arcebispo Francisco Javier Martínez prostrou-se perante o altar e rezou em silêncio para pedir perdão “por todos os pecados da Igreja, por todos os escândalos” que tenham acontecido.

No diálogo com os jornalistas, o Papa mostrou satisfação pela forma como correu a visita a Estrasburgo e riu-se quando lhe perguntaram se era “social-democrata”, por considerar que essa é uma visão “redutora”, quase como se o colocassem numa “coleção de insetos”.

“Eu, nestas e noutras coisas sociais ou políticas que já disse, nunca me afastei da Doutrina Social da Igreja, que vem do Evangelho e da tradição cristão. O que disse sobre a identidade dos povos é um valor evangélico”, precisou.

Neste contexto, precisou que não quis fazer da viagem a Estrasburgo uma primeira visita a França, onde voltará em 2015 para estar em Paris, Lourdes e “numa cidade em que nunca tenha estado nenhum Papa”.

Francisco explicou ainda que, apesar de guardar a “memória” do tempo em que foi arcebispo de Buenos Aires, hoje é “bispo de Roma e sucessor de Pedro”, pelo que tem uma natural preocupação com a situação na Europa, como disse em Estrasburgo perante os deputados do Parlamento Europeu e os membros da assembleia parlamentar do Conselho da Europa.

Esta foi a segunda viagem internacional do atual pontificado na Europa, após a visita à Albânia, no dia 21 de setembro, e mais curta de um Papa no estrangeiro, com uma duração de cerca de quatro horas.

OC

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Agência ECCLESIA

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