«Muitos batizados» desconhecem «os conteúdos essenciais da fé ou pensam poder cultivá-la prescindindo da mediação eclesial»
Cidade do Vaticano, 24 mai 2012 (Ecclesia) – Bento XVI frisou hoje no Vaticano que a transmissão do cristianismo é impossível se os católicos não voltarem “a uma profunda experiência de Deus”, que para o Papa é a primeira condição para o sucesso da evangelização.
“Num tempo no qual Deus se tornou para muitos o grande desconhecido e Jesus simplesmente um grande personagem do passado, não se poderá relançar a ação missionária sem uma renovação da qualidade da nossa fé e da nossa oração”, sublinhou numa intervenção aos bispos da Conferência Episcopal Italiana.
O discurso sobre Deus, quando não encontra “indiferença” ou “recusa”, é “relegado para o âmbito subjetivo, reduzido a facto íntimo e privado, marginalizado da consciência pública”, revelando que o ser humano vive com a pretensão de ter uma “identidade completa simplesmente em si mesmo”, disse Bento XVI na alocução publicada pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
O Papa também se centrou na diminuição da prática religiosa entre os católicos, “visível na participação na liturgia eucarística e, ainda mais, no Sacramento da Penitência [confissão]”: “Muitos batizados perderam identidade e pertença: não conhecem os conteúdos essenciais da fé ou pensam poder cultivá-la prescindindo da mediação eclesial”.
No discurso aos bispos reunidos em assembleia plenária dedicada à evangelização dos adultos, Bento XVI lembrou também os setores da população que duvidam da “verdade ensinada pela Igreja” ou que “reduzem o Reino de Deus a alguns grandes valores, que têm certamente a ver com o Evangelho mas que não preservam o núcleo central da fé cristã”.
“O património espiritual e moral no qual o Ocidente funda as suas raízes e que constitui a sua força vital deixou de ser entendido no seu valor profundo”, observou, advertindo logo a seguir que “uma terra fecunda arrisca-se assim a tornar-se deserto inóspito e a boa semente a ficar sufocada, pisada e perdida”.
No ano em que se assinala o 50.º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II (1962-1965), Bento XVI vincou que a Igreja deve seguir a intuição conciliar no que respeita à transmissão do cristianismo de um modo novo, não segundo uma “inaceitável hermenêutica da descontinuidade e da rutura” mas da “continuidade e da reforma”.
RJM