Vaticano: Papa desafia farmacêuticas a libertar patentes das vacinas

Francisco faz pedidos para «melhorar o mundo», da Economia à Comunicação, apoiando criação de rendimento básico universal

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 16 out 2021 (Ecclesia) – O Papa pediu hoje no Vaticano que as farmacêuticas libertem as patentes das vacinas, de forma a ajudar as populações dos países mais pobres, falando a um encontro de Movimentos Populares dos cinco continentes.

“(Peço) aos grandes laboratórios que libertem as patentes. Tenham um gesto de humanidade e permitam que cada país, cada povo, cada ser humano tenha acesso às vacinas. Há países em que apenas três, quatro por cento dos habitantes foram vacinados”, referiu Francisco, num vídeo divulgado pela Santa Sé e enviado à Agência ECCLESIA.

Este quarto encontro com os Movimentos Populares, por via digital, foi precedido de uma reunião de trabalho no último mês de julho, que debateu o impacto da Covid-19 sobre os trabalhadores mais pobres.

Num discurso de cerca de 40 minutos, em espanhol, Francisco deixou esta tarde uma série de pedidos, começando pelas farmacêuticas, com o objetivo de “melhorar o mundo”, no pós-pandemia.

“Quero pedir em nome de Deus aos grupos financeiros e organismos internacionais de crédito que permitam aos países pobres garantir as necessidades básicas da sua população”, disse, apelando ao perdão das dívidas.

Francisco apelou a mudanças nas grandes empresas extrativas – mineiras, petrolíferas, florestais, imobiliárias, agronegócios – e grandes empresas alimentares, criticando, neste caso, “ estruturas monopolistas de produção e distribuição que inflacionam os preços”.

A intervenção interpelou fabricantes e traficantes de armas, alertando para “jogos geopolíticos que custam milhões de vidas e de deslocamentos”.

“Quero pedir em nome de Deus aos países poderosos que acabem com as agressões, bloqueios e sanções unilaterais contra qualquer país em qualquer lugar da terra”, acrescentou.

O Papa apontou ainda aos “gigantes da tecnologia”, para que “deixem de explorar a fragilidade humana, as vulnerabilidades das pessoas, para obter lucros, sem ter em conta como aumentam os discursos de ódio, o grooming, as fake news, as teorias da conspiração, a manipulação política”.

Quero pedir em nome de Deus aos gigantes das telecomunicações que liberalizem o acesso aos conteúdos educativos e o intercâmbio com os professores pela internet para que as crianças pobres possam também ter acesso à educação em contextos de quarentena”.

Francisco lamentou ainda que os meios de comunicação promovam a lógica da “pós-verdade, a desinformação, a difamação, a calúnia e esse fascínio doentio pelo escândalo e o sórdido”.

O Papa convidou a superar a “lógica implacável do lucro” e defendeu uma política centrada no “bem comum”.

“Quero pedir também a todos os líderes religiosos que nunca usemos o Nome de Deus para fomentar guerras nem golpes de Estado”, indicou.

É necessário que juntos enfrentemos os discursos populistas de intolerância, xenofobia, aporofobia (que é o ódio aos pobres) e todos os que nos levem à indiferença, à meritocracia e ao individualismo; estas narrativas apenas servirão para dividir os nossos povos e minar e neutralizar a nossa capacidade poética. A capacidade de sonharmos juntos”.

Francisco admitiu que as suas propostas têm sido alvo de críticas e até de uma “adjetivação degradante”, sublinhando que as mesmas têm como base a Doutrina Social da Igreja.

“Isso não me aborrece, entristece-me. Faz parte da trama da pós-verdade que procura anular qualquer busca humanista alternativa à globalização capitalista, faz parte da cultura do descarte e faz parte do paradigma tecnocrático”, declarou.

O Papa manifestou o seu apoio à criação de um salário universal e à redução do horário de trabalho.

“Um rendimento básico (o RBU) ou salário universal para que cada pessoa neste mundo possa aceder aos bens mais elementares da vida. É justo lutar por uma distribuição humana destes recursos”, indicou, acrescentando que “não pode haver tantas pessoas oprimidas pelo excesso de trabalho e tantas outras oprimidas pela falta de trabalho”.

O IV Encontro Mundial dos Movimentos Populares é promovido, online, pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, da Santa Sé.

OC

 

 

 

 

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Agência ECCLESIA

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