Mensagem à FAO pede mais empenho da comunidade internacional na resposta ao problema da insegurança alimentar e da desnutrição, agravado pelos conflitos e as alterações climáticas

Cidade do Vaticano, 30 jun 2025 (Ecclesia) – O Papa denunciou hoje o uso da fome como “arma de guerra”, na sua primeira mensagem à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), divulgada pelo Vaticano.
“Assistimos, desolados, ao uso injusto da fome como arma de guerra. Matar a população à fome é uma forma muito barata de fazer guerra”, alertou Leão XIV.
A mensagem realça que, atualmente, a maioria dos conflitos “não é travada por exércitos regulares, mas por grupos de civis armados com poucos recursos”.
“Queimar terras, roubar gado e bloquear a ajuda são táticas cada vez mais utilizadas por aqueles que pretendem controlar populações inteiras indefesas. Assim, neste tipo de conflitos, os primeiros alvos militares passam a ser as redes de abastecimento de água e as vias de comunicação”, lamentou.
Leão XIV sublinhou que os agricultores “não podem vender os seus produtos em ambientes ameaçados pela violência e a inflação dispara”.
Isto leva a que enormes quantidades de pessoas sucumbam ao flagelo da fome e morram, com o agravante de que, enquanto os civis definham pela miséria, os líderes políticos engordam com a corrupção e a impunidade. Por isso, é hora de o mundo adotar limites claros, reconhecíveis e consensuais para punir esses abusos e perseguir os seus causadores e executores.”
Assinalando o 80.º aniversário de fundação da FAO, o Papa sustentou que “o problema da insegurança alimentar e da desnutrição continua a representar um dos maiores desafios” da atualidade.
“A Igreja incentiva todas as iniciativas para pôr fim ao escândalo da fome no mundo”, indica.
O texto aponta à “tragédia da fome e da desnutrição generalizadas, que persiste em muitos países hoje em dia”.
“Embora a terra seja capaz de produzir alimentos suficientes para todos os seres humanos, e apesar dos compromissos internacionais em matéria de segurança alimentar, é lamentável que tantos pobres do mundo continuem a carecer do pão nosso de cada dia”, assinalou o pontífice.
Leão XIV observa que as crises políticas, os conflitos armados e as perturbações económicas desempenham um “papel central no agravamento da crise alimentar”, dificultando a ajuda humanitária e comprometendo a produção agrícola local.
“Os sistemas alimentares têm uma grande influência nas alterações climáticas e vice-versa. A injustiça social provocada pelas catástrofes naturais e pela perda de biodiversidade deve ser revertida para alcançar uma transição ecológica justa, que coloque o ambiente e as pessoas no centro”, acrescenta.
A mensagem adverte para as consequências da “enorme polarização das relações internacionais devido às crises e aos conflitos existentes”, criando que “os recursos financeiros e as tecnologias inovadoras destinados à erradicação da pobreza e da fome no mundo” sejam desviados para o fabrico e o comércio de armas.
OC