Francisco convida a exame de consciência dos cristãos, perante «apego excessivo ao dinheiro»
Cidade do Vaticano, 13 nov 2022 (Ecclesia) – O Papa denuncia na sua mensagem para o VI Dia Mundial dos Pobres, que se celebra hoje, uma “pobreza que mata”, imposta por uma lógica centrada no “lucro”.
“Quando a única lei passa a ser o cálculo do lucro no fim do dia, deixa de haver qualquer travão à adoção da lógica da exploração das pessoas: os outros não passam de meios. Deixa de haver salário justo, horário justo de trabalho e criam-se novas formas de escravidão, sofridas por pessoas que, sem alternativa, têm de aceitar esta injustiça venenosa, a fim de ganhar o sustento mínimo”, refere, num texto divulgado pelo Vaticano.
O VI Dia Mundial dos Pobres celebra-se anualmente penúltimo domingo do ano litúrgico, tendo em 2022 o tema ‘Jesus Cristo fez-Se pobre por vós’ (cf. 2 Cor 8, 9).
“A pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos. É a pobreza desesperada, sem futuro, porque é imposta pela cultura do descarte que não oferece perspetivas nem vias de saída”, alerta Francisco.
O Papa sublinha que esta miséria “constringe à condição de extrema indigência” e “afeta também a dimensão espiritual”.
A mensagem sustenta que uma “pobreza libertadora”, do ponto de vista católico, “é aquela que se apresenta como uma opção responsável para alijar da estiva quanto há de supérfluo e apostar no essencial”.
Encontrar os pobres permite acabar com tantas ansiedades e medos inconsistentes, para atracar àquilo que verdadeiramente importa na vida e que ninguém nos pode roubar: o amor verdadeiro e gratuito. Na realidade, os pobres, antes de ser objeto da nossa esmola, são sujeitos que ajudam a libertar-nos das armadilhas da inquietação e da superficialidade”.
Francisco sustenta que, no combate à pobreza, é preciso superar as “retóricas” para “arregaçar as mangas e pôr em prática a fé através dum envolvimento direto, que não pode ser delegado a ninguém”.
O texto alerta para “comportamentos incoerentes” dos cristãos, devido a um “apego excessivo ao dinheiro”.
“Sabemos que o problema não está no dinheiro em si, pois faz parte da vida diária das pessoas e das relações sociais. Devemos refletir, sim, sobre o valor que o dinheiro tem para nós: não pode tornar-se um absoluto, como se fosse o objetivo principal”, precisa.
Nada de mais nocivo poderia acontecer a um cristão e a uma comunidade do que ser ofuscados pelo ídolo da riqueza, que acaba por acorrentar a uma visão efémera e falhada da vida”.
O Papa começa por convidar a uma reflexão sobre o estilo de vida e as “inúmeras pobrezas” do mundo contemporâneo.
“Urge encontrar estradas novas que possam ir além da configuração daquelas políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres e muito menos inserida num projeto que reúna os povos”, indica, citando a sua encíclica ‘Fratelli Tutti’ (2020).
A mensagem do Papa para a celebração de 2022 foi assinada, simbolicamente, a 13 de junho, dia da festa litúrgica de Santo António.
A jornada criada pelo Papa em 2017 está a ser assinalada com pelo Dicastério para a Evangelização (Santa Sé) com iniciativas desde consultas médicas gratuitas até entrega de cabazes alimentares e pagamento de faturas de energia.
Francisco vai presidir à Missa deste dia mundial, pelas 10h00 (menos uma em Lisboa), na Basílica de São Pedro, seguindo-se um almoço oferecido pelo Vaticano no Auditório Paulo VI para um grupo de 1300 pessoas desfavorecidas.
Após uma pausa de dois anos, devido às restrições causadas pela pandemia de Covid-19, a Praça de São Pedro voltou a receber um posto de saúde móvel para oferecer exames médicos e medicamentos, vacinas contra a gripe e testes para várias doenças.
Até hoje, vão ser entregues em Roma um total de 5 mil cabazes alimentares, com a ajuda das paróquias locais, que identificaram as famílias mais necessitadas, num total de cerca de 10 toneladas de massa, 5 toneladas de arroz, farinha, açúcar, sal e café, e 5 mil litros de azeite e leite.
As iniciativas do Vaticano têm em consideração a crise energética, prevendo o pagamento de contas de gás e luz.
OC
A mensagem do Papa destaca a tradição de partilha nas comunidades cristãs, um gesto que se repete “cada domingo, durante a celebração da Santa Missa”, para que se possa prover às necessidades dos mais pobres.
“Oxalá este VI Dia Mundial dos Pobres se torne uma oportunidade de graça, para fazermos um exame de consciência pessoal e comunitário, interrogando-nos se a pobreza de Jesus Cristo é a nossa fiel companheira de vida”, apela. Francisco evoca a canonização de Carlos de Foucauld, “um homem que, tendo nascido rico, renunciou a tudo para seguir Jesus e com Ele tornar-se pobre e irmão de todos”. “A sua vida eremita, primeiro em Nazaré e depois no deserto do Saara, feita de silêncio, oração e partilha, é um testemunho exemplar da pobreza cristã”, acrescenta. |
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