Francisco reforça centralidade dos pobres na vida da Igreja e lembra que é contra uso injusto das riquezas, sem demonizar os ricos
Cidade do Vaticano, 13 mar 2015 (Ecclesia) – O Papa Francisco, que hoje completa dois anos de pontificado, voltou a sublinhar a centralidade dos pobres na vida da Igreja Católica e denunciou o “pecado mortal” do salário injusto para quem trabalha.
“O que mais me indigna é o salário injusto, porque alguém enriquece à custa da dignidade que não dá à pessoa”, confessa, em entrevista à televisão mexicana ‘Televisa’, divulgada esta manhã.
Francisco mostra-se chocado com a “tranquilidade de consciência” de quem não paga salários, pensões ou subsídios, transformando o trabalho em algo “indigno”.
“É pecado! Seja feito por um rico, por alguém da classe média ou por um pobre, é pecado. Temos de denunciar estas coisas”, assinalou.
O Papa rejeita de novo quaisquer acusações de “comunismo” e explica que não está contra quem é rico, mas contra “a injustiça das riquezas”, porque “o diabo entra pelo bolso”.
“Por exemplo, quando não se paga o salário justo, é um pecado mortal. Isso é aproveitar-se da pobreza do outro”, insiste.
O pontífice argentino sublinha que o próprio Jesus Cristo coloca os pobres “no centro” da sua mensagem, elogiando a “sabedoria, a dignidade do trabalho”.
“O que eu ataco é a segurança na riqueza. Não ponhas a tua segurança aí. Jesus é radical quanto a isso, no Evangelho”, refere.
A este respeito, o Papa realça que está em curso a causa de beatificação de um empresário rico argentino, Enrique Shaw (1921-1962).
“Uma pessoa pode ter dinheiro. Deus dá-o para que se administre bem e este homem administrava-o bem, não com paternalismo, mas fazendo crescer aqueles que precisavam da sua ajuda”, explicou.
A entrevista recorda dramas como o tráfico de pessoas, promovido por “pessoas com muito dinheiro” e critica os que vivem “ignorando que existe pobreza”.
“São a esses que eu ataco. O dinheiro que escraviza os outros, não os deixa crescer”, observa.
Como fizera numa anterior entrevista ao jornal italiano ‘Il Messaggero’, o Papa rejeita o rótulo de ‘marxista’, afirmando que “a bandeira da pobreza é cristã” e que os comunistas a “roubaram” porque a Igreja a tinha colocado “no museu”.
Francisco elogia os que nos últimos séculos procuraram “saídas” para a promoção social, face às crises.
“Não é questão de dar dinheiro, é promover. Daí a importância da educação e das saídas laborais”, frisou.
O Papa mostra-se “escandalizado” com a discrepância entre bairros de lata e empreendimentos de luxo, separados por poucos quilómetros, e reconhece que por vezes usa “palavras fortes” para denunciar estas situações.
OC