Vaticano: Papa denuncia «desequilíbrios e injustiças» globais e apela ao acolhimento dos migrantes

Leão XIV recordou experiência pessoal, que o levou a «atravessar fronteiras», junto do Corpo Diplomático acreditado na Santa Sé

Foto: Vatican Media

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 16 mai 2025 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje ao combate às desigualdades globais e ao acolhimento dos migrantes, falando aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé.

“Cada um de nós, ao longo da vida, pode encontrar-se saudável ou doente, empregado ou desempregado, na sua terra natal ou numa terra estrangeira: a nossa dignidade, no entanto, permanece sempre a mesma, a de uma criatura querida e amada por Deus”, referiu Leão XIV, durante a audiência que decorreu na Sala Clementina do Palácio Apostólico do Vaticano.

No seu primeiro encontro com os representantes diplomáticos, dos cinco continentes, o Papa, nascido nos EUA, evocou a sua história pessoal, como “descendente de imigrantes, que por sua vez emigraram”.

“De certa forma, a minha própria experiência de vida, desenvolvida entre a América do Norte, a América do Sul e a Europa, é representativa desta aspiração de atravessar fronteiras para encontrar pessoas e culturas diferentes”, assinalou Leão XIV, que foi bispo e missionário no Peru e antigo prior geral da Ordem de Santo Agostinho, com sede em Roma.

O Papa citou Leão XIII, pontífice entre 1878 e 1903, que o inspirou na escolha do nome para o pontificado, evocando a “primeira grande encíclica social, a Rerum Novarum”, de 1891.

Na mudança de época que estamos a viver, a Santa Sé não pode deixar de fazer ouvir a sua voz perante os numerosos desequilíbrios e injustiças que conduzem, entre outras coisas, a condições indignas de trabalho e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas”.

Foto: Secretaria de Estado do Vaticano

Leão XVI defendeu esforços para superar “as desigualdades globais” e identificou como desafios comuns “as migrações, o uso ético da inteligência artificial e a preservação” do planeta.

“São desafios que exigem o empenho e a cooperação de todos, pois ninguém pode pensar em enfrentá-los sozinho”, insistiu.

O Papa apresentou como condições para construir “sociedades civis harmoniosas e pacíficas” o investimento na família, “fundada na união estável entre o homem e a mulher”, e a defesa de cada pessoa, “especialmente a das mais frágeis e indefesas, do nascituro ao idoso, do doente ao desempregado, seja ele cidadão ou imigrante”.

Leão XIV, eleito a 8 de maio, deixou uma mensagem “a todos os povos e a cada pessoa desta terra, desejosas e necessitadas de verdade, de justiça e de paz”.

O discurso, em italiano, apontou aos “valores humanos e espirituais” que animam a ação internacional do Vaticano.

“Na sua ação diplomática, a Santa Sé é animada por uma urgência pastoral que a impele a intensificar a sua missão evangélica ao serviço da humanidade, e não a procurar privilégios”, referiu o pontífice.

O Papa apresentou a paz, a justiça e a verdade como “pilares da ação missionária da Igreja e do trabalho da diplomacia da Santa Sé”.

“Não é possível construir relações verdadeiramente pacíficas, mesmo no seio da comunidade internacional, sem a verdade”, sustentou.

A Igreja nunca se pode furtar a dizer a verdade sobre o homem e sobre o mundo, mesmo recorrendo, quando necessário, a uma linguagem franca, que pode provocar alguma incompreensão inicial”.

184 Estados, incluindo Portugal, têm relações diplomáticas plenas com a Santa Sé, a que se somam a União Europeia e a Ordem Soberana e Militar de Malta.

“Obrigado por todo o trabalho que fazeis”, concluiu o Papa.

OC

A saudação inicial esteve a cargo do decano do Corpo Diplomático, Georges Poulides.

“O Conclave sabiamente deu ao mundo um guia espiritual e moral que amadureceu a sua sensibilidade numa experiência pastoral vivida em contacto direto com os desafios do nosso tempo – a pobreza, a busca da justiça, a dignidade humana, a demanda por amor, a necessidade de encontrar uma resposta para as grandes questões da existência – e que hoje encontra ressonância muito além das fronteiras de uma única região”, assinalou o embaixador do Chipre junto da Santa Sé.

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