Leão XIV enviou mensagem aos participantes da 46ª edição do ‘Meeting de Rimini’, na qual encorajou «a dar nome e forma ao novo, para que a fé, a esperança e a caridade se traduzam numa grande conversão cultural»

Cidade do Vaticano, 21 ago 2025 (Ecclesia) – O Papa Leão XIV denunciou hoje a “idolatria do lucro” que compromete a paz, numa mensagem enviada aos participantes do Encontro pela Amizade entre os Povos, em Rimini (Itália), que decorre de 22 a 27 de agosto.
“Para servir ao Deus vivo, é preciso abandonar a idolatria do lucro, que comprometeu gravemente a justiça, a liberdade de encontro e de intercâmbio, a participação de todos no bem comum e, finalmente, a paz”, pode ler-se no texto dirigido ao bispo de Rimini, D. Nicolò Anselmi, através do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.
Para o Papa, a presença dos cristãos nas sociedades contemporâneas, “desarmada e desarmante”, “deve traduzir com competência e imaginação o Evangelho do Reino em formas de desenvolvimento alternativas aos caminhos de crescimento sem equidade e sustentabilidade”.
Leão XIV considera que “uma fé que se estranha da desertificação do mundo ou que, indiretamente, contribui para tolerá-la” não segue Jesus Cristo.
“A revolução digital em curso corre o risco de acentuar as discriminações e os conflitos: deve, portanto, ser vivida com a criatividade daqueles que, obedecendo ao Espírito Santo, não são mais escravos, mas filhos”, defendeu.
“Nos lugares desertos construiremos com tijolos novos” é o tema da 46º edição do ‘Meeting de Rimini’ 2025, tendo o Papa realçado que, “onde parece que nada pode nascer, a Sagrada Escritura volta continuamente a narrar as passagens de Deus”.
“No deserto, antes de mais nada, nasce o seu povo. De facto, é somente caminhando entre as suas asperezas que amadurece a escolha da liberdade”, referiu Leão XIV, acrescentando que o “Deus bíblico” transforma o local evocado “num lugar de amor e de decisões” e “faz com que floresça como um jardim de esperança”.
Uma das exposições do Encontro pela Amizade entre os Povos deste ano, promovido pelo movimento Comunhão e Libertação, inclui o testemunho dos mártires da Argélia, algo que o Papa “apreciou”, assinala a mensagem.
“Neles resplandece a vocação da Igreja de habitar o deserto em profunda comunhão com toda a humanidade, superando as barreiras de desconfiança que opõem as religiões e as culturas, na imitação integral do movimento de encarnação e doação do Filho de Deus”, pode ler-se no texto.
Segundo o Papa, “é este caminho de presença e simplicidade, de conhecimento e de «diálogo da vida» o verdadeiro caminho da missão”.
“Não uma autoexibição, na oposição das identidades, mas a doação de si mesmo até ao martírio daqueles que adoram dia e noite, na alegria e nas tribulações, somente Jesus como Senhor”, indicou.
Leão XIV assinala que “não faltarão, como é habitual, diálogos entre católicos de diferentes sensibilidades e com crentes de outras confissões e não crentes”, lembrando-os como “exercícios importantes de escuta, que preparam os ‘novos tijolos’ com os quais construir aquele futuro que Deus já tem reservado para todos, mas que só se revela quando” se verifica o acolhimento de parte a parte.
“Não podemos mais nos dar ao luxo de resistir ao Reino de Deus, que é um Reino de paz. E onde os responsáveis pelas instituições estatais e internacionais parecem não conseguir fazer prevalecer o direito, a mediação e o diálogo, as comunidades religiosas e a sociedade civil devem ousar a profecia”, sublinhou.
“Significa deixar-se levar ao deserto e ver desde já o que pode nascer das ruínas e de tanta, demasiada dor inocente”, completou.
Na mensagem, divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé, o Papa encoraja a “dar nome e forma ao novo, para que a fé, a esperança e a caridade se traduzam numa grande conversão cultural”.
“Sem as vítimas da história, sem os famintos e sedentos de justiça, sem os operadores da paz, sem as viúvas e os órfãos, sem os jovens e os idosos, sem os migrantes e os refugiados, sem o clamor de toda a criação, não teremos novos tijolos”, destacou.
O Papa salienta que “negar as vozes dos outros e renunciar à compreensão mútua são experiências fracassadas e desumanizantes” e que a “elas deve ser oposta a paciência do encontro com um Mistério sempre outro, cujo sinal é a diferença de cada um”.
LJ/PR