Leão XIV destacou valor da Doutrina Social da Igreja e convidou a dar voz aos pobres



Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 17 mai 2025 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje ao desenvolvimento de um “sentido crítico” para enfrentar a revolução industrial em curso, defendendo ainda que a Doutrina Social da Igreja dê voz aos pobres.
“No contexto da revolução digital em curso, o mandato de educar para o sentido crítico deve ser redescoberto, explicitado e cultivado, contrariando as tentações opostas, que também podem atravessar o corpo eclesial. Há pouco diálogo à nossa volta, e prevalecem as palavras gritadas, não raro as notícias falsas e as teses irracionais de alguns prepotentes”, advertiu Leão XIV, ao falar perante os da Fundação ‘Centesimus Annus Pro Pontifice’, que realizaram a sua assembleia anual e promoveram uma conferência internacional, em Roma.
A conferência que decorreu esta sexta-feira no Instituto Augustinianum, teve como tema ‘Superar as polarizações e reconstruir as bases éticas da governança global: rumo a uma nova Agenda para a prosperidade partilhada, a cooperação internacional e a construção da paz’.
Leão XIV desafiou os participantes a promover “o encontro e a escuta dos pobres”.
“Quem nasce e cresce longe dos centros de poder não deve ser simplesmente instruído na Doutrina Social da Igreja, mas reconhecido como seu continuador e atualizador: os testemunhos do compromisso social, os movimentos populares e as diversas organizações católicas de trabalhadores são expressão das periferias existenciais onde resiste e sempre brota a esperança. Recomendo-vos que deis a palavra aos pobres”, apelou.
O Papa apresentou a Doutrina Social da Igreja (DSI) como um “instrumento de paz e diálogo para construir pontes de fraternidade universal”.
Leão XIV recordou a sua primeira mensagem após a eleição pontifícia, a 8 de maio, para apelar à construção de “pontes, com o diálogo, com o encontro, unindo-nos todos para sermos um único povo sempre em paz”.
O novo pontífice referiu-se a Leão XIII, Papa entre 1878 e 1903, que inspirou a escolha do seu nome, e autor da encíclica social ‘Rerum Novarum’.
“O Papa Leão XIII – que viveu num período histórico de transformações épicas e disruptivas – tinha como objetivo contribuir para a paz, estimulando o diálogo social, entre o capital e o trabalho, entre as tecnologias e a inteligência humana, entre as diferentes culturas políticas, entre as nações”, precisou.
A intervenção citou ainda o Papa Francisco, que o usou o termo “policrise” para definir a atual conjuntura histórica, “na qual convergem guerras, alterações climáticas, desigualdades crescentes, migrações forçadas, pobreza estigmatizada, inovações tecnológicas disruptivas, precariedade do trabalho e dos direitos”.
Leão XIV assinalou que a DSI deve “aprender a enfrentar os problemas”, sublinhando que “cada geração é nova, com novos desafios, novos sonhos, novas perguntas”.
“Temos aqui um aspeto fundamental para a construção da ‘cultura do encontro’ através do diálogo e da amizade social”, acrescentou, com referência a conceitos centrais no pontificado do seu antecessor.
O Papa sustentou que “diálogo” e “doutrina” podem coexistir, apresentando esta como um caminho “multidisciplinar em direção à verdade”
“A doutrina, enquanto reflexão séria, serena e rigorosa, pretende ensinar-nos, em primeiro lugar, a saber aproximar-nos das situações e, antes ainda, das pessoas. Além disso, ajuda-nos a formular um julgamento prudente. São a seriedade, o rigor e a serenidade que devemos aprender com toda a doutrina, inclusive com a Doutrina Social”, apelou.
A intervenção, divulgada pelo Vaticano, concluiu-se com um pedido de reflexão, perante o atual “período histórico de grandes mudanças sociais, ouvindo e dialogando com todos”.
OC