Francisco diz que é necessário evitar tentações do «assistencialismo» e da «indiferença»
Cidade do Vaticano, 20 nov 2014 (Ecclesia) – O Papa afirmou hoje que a atual crise económica exige “iniciativa” para superar as consequências das dificuldades económicas e do desemprego, evitando as tentações do “assistencialismo” e da “indiferença”.
“É preciso renovar também as relações de trabalho, experimentando novas formas de participação e de responsabilidade dos trabalhadores, inventando novas fórmulas de entrada no mundo do trabalho, criando uma relação solidária entre empresa e território”, assinalou Francisco numa videomensagem divulgada pelo Vaticano.
A intervenção destina-se à abertura da quarta edição do Festival da Doutrina Social da Igreja que decorre até domingo na cidade italiana de Verona.
“A grande tentação é parar para tratar das próprias feridas e encontrar nisso uma desculpa para não ouvir o grito dos pobres e o sofrimento dos que perderam a dignidade de levar para casa o pão, porque perderam o seu trabalho”, advertiu.
O Papa notou que a crise económica e social pode “assustar” ou “desorientar”, levando a pensar que a situação “é tão pesada” que não se pode fazer nada, em vez de assumir a “iniciativa”.
“Tomar a iniciativa significa superar o assistencialismo. Viver este tempo intensamente leva a apostar num futuro diferente e numa forma diferente de resolver os problemas”, sustentou Francisco.
Segundo o Papa, é preciso deixar de pedir “ainda e sempre” soluções ao Estado ou às instituições de assistência para criar “novos processos”.
“Estes novos processos não são o resultado de intervenções técnicas, são o resultado de um amor que, solicitado pelas situações, não se contenta até que invente algo e se transforme em resposta”, precisou.
Neste sentido, Francisco declarou que “tomar a iniciativa” significa “considerar o amor como a verdadeira força de mudança”.
“Amar o seu próprio trabalho, estar presente nas dificuldades e sentir-se envolvido, responder responsavelmente, é ativar o amor que cada um de nós tem no coração”, prosseguiu.
A intervenção frisou a importância de dar resposta a “necessidades reais”, deixando de lado os lugares comuns e superando um sistema que tende a “homologar tudo” e a fazer do dinheiro o “patrão”.
“É preciso um modo novo de ver as coisas. Dou-vos um exemplo: hoje diz-se que muitas coisas não se conseguem fazer porque falta dinheiro, mas há sempre dinheiro para algumas coisas”, observou o Papa, referindo-se depois ao mercado do armamento e às “operações financeiras sem escrúpulos”.
O verdadeiro problema, indicou, não está no dinheiro, mas nas pessoas: “Não podemos pedir ao dinheiro aquilo que só as pessoas podem fazer ou criar”.
Francisco apresentou o exemplo de um pai que constituiu uma cooperativa com jovens portadores da síndrome de Down, como o seu filho, criando as “premissas laborais” que lhes permitiram assegurar uma “sã autonomia”.
O Papa deixou votos de que se consiga criar uma nova “consciência social” para evitar a “indiferença” que torna as pessoas “cegas, surdas e mudas”, fechadas em si mesmas.
OC