Vaticano: Papa critica sociedade que «olha para os que sofrem sem os tocar»

É urgente trabalhar por «um verdadeiro compromisso com a humanidade», disse Francisco

Cidade do Vaticano, 17 fev 2017 (Ecclesia) – O Papa Francisco alertou hoje para a “desumanização acelerada” em que caiu a sociedade, um problema cuja resolução requer o envolvimento de todas as pessoas, a começar pelos cristãos.

Numa mensagem enviada aos participantes de um encontro de Movimentos Populares nos Estados Unidos da América, e publicada hoje pela sala de imprensa da Santa Sé, o Papa realçou que perante a realidade dos que hoje não têm “terra, teto e trabalho”, e de outras “realidades destrutivas” como a desigualdade social e a pobreza, “não há que ficar paralisado” ou “indiferente”.

“O sistema económico, que colocou o Deus do dinheiro no centro, tem infligido nas pessoas feridas que têm sido criminosamente negligenciadas. E esta sociedade globalizada em que vivemos olha frequentemente para o outro lado, escudada numa pretensa sensação de inocência”, apontou Francisco.

Na sua carta, o Papa enumerou ainda outros desafios, que devem mobilizar “cristãos e todas as pessoas de boa vontade”, desde a crise ambiental à guerra e ao terrorismo, tudo sintomas que mostram a perda de valores como a solidariedade e o cuidado pelo outro, que estão descritos na parábola do ‘Bom Samaritano’.

“Sob a capa do que é politicamente correto ou que está ideologicamente na moda, olhamos hoje para os que sofrem sem os tocar. Eles abrem jornais em direto, são tema de conversa no meio de eufemismos e de uma aparente tolerância, mas sistematicamente nada é feito para curar as feridas sociais ou confrontar as estruturas que atiram tantos irmãos e irmãs nossas para as periferias”, criticou.

Para o Papa, “esta atitude hipócrita” que tomou conta da sociedade, “tão diferente da atitude do Bom Samaritano do Evangelho”, mostra “a ausência de um verdadeiro compromisso com a humanidade”.

“Perdemos até agora um tempo precioso. A direção que tomaremos de agora em diante depende do grau de envolvimento e participação das pessoas e, em grande medida, de vocês, movimentos populares”, frisou Francisco, para quem é tempo de mostrar ao mundo um caminho diferente, com outras prioridades.

“A compaixão, o amor, não é um sentimento vago”, frisou o Papa, que desafiou os membros dos movimentos sociais a afirmarem-se no seu meio como “um samaritano” capaz de parar e cuidar de quem está caído à beira da estrada, de quem foi espancado no corpo e na alma, espoliado da sua dignidade.

“Vocês têm de tornar-se samaritanos. E depois têm de tornar-se também como o dono da pousada do final da parábola, a quem o samaritano confia a pessoa ferida. Quem é este guardião? É a Igreja Católica, é a comunidade cristã, são as pessoas que mostram compaixão e solidariedade, são as organizações sociais. Somos nós, são vocês, a quem Deus confia os que mais sofrem”, concluiu.

O encontro de Movimentos Sociais está a decorrer na localidade de Modesto, na Califórnia, EUA, até ao próximo domingo.

JCP

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