Francisco sublinha que declaração «Fiducia supplicans» se centra no «acolhimento»
Cidade do Vaticano, 07 fev 2024 (Ecclesia) – O Papa criticou hoje o que considerou como “hipocrisia” de quem criticou a recente declaração ‘Fiducia supplicans’, da Doutrina da Fé (Santa Sé), que prevê a possibilidade de abençoar casais em segunda união ou uniões de pessoas do mesmo sexo.
“Ninguém se escandaliza se eu der uma bênção a um empresário que talvez explore pessoas: e este é um pecado muito grave. Mas escandalizam-se se eu der a bênção a um homossexual. Isto é uma hipocrisia”, refere, em entrevista ao semanário ‘Credere’, publicação religiosa do grupo editorial San Paolo, que chega às bancas esta quinta-feira.
“Sempre quando surgem estas situações na Confissão, pessoas homossexuais, pessoas que voltaram a casar, eu rezo e abençoo sempre. A bênção não deve ser negada a ninguém. A todos, a todos. Mas atenção, estou a falar de pessoas: aquelas que são capazes de receber o Batismo”, acrescentou.
Numa antecipação feita pelo portal de notícias do Vaticano, Francisco precisa que o “cerne do documento é o acolhimento”, desejando uma Igreja mais capaz de estar próxima das pessoas.
“Quando estou com as pessoas, é outra coisa. As pessoas sofrem tanto… nós, clérigos, por vezes vivemos na facilidade, precisamos de ver o trabalho, o sofrimento das pessoas”, apela.
Entrevistado pelo chefe de redação da revista ‘Credere’, padre Vincenzo Vitale, o Papa sublinha que “há experiências pastorais que falam a pessoas simples”.
“Há também realidades sofisticadas que não chegam, movimentos que são um pouco requintados e que tendem a formar uma ‘eclesiola’, de pessoas que se sentem superiores”, acrescenta.
Um movimento é bom quando nos insere na verdadeira Igreja, mas se são seletivos, se nos afastam da Igreja, se nos levam a pensar que somos um cristão especial, isso não é cristão”.
Francisco sublinha ainda o papel das mulheres na Igreja, considerando “importante” abrir o trabalho na Cúria a responsáveis femininas.
“Na Cúria Romana há agora várias mulheres porque se saem melhor do que nós, homens, em certos cargos”, insiste.
Questionado sobre o seu estado de saúde, em particular os problemas que o afetam num joelho, o Papa reafirma: “A Igreja governa-se com a cabeça, não com as pernas”.
A 26 de janeiro, numa audiência aos participantes da assembleia plenária do Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé), Francisco precisou que a declaração ‘Fiducia supplicans’ se refere à bênção das pessoas que a solicitam.
“Essas bênçãos, fora de qualquer contexto e forma litúrgica, não exigem perfeição moral para serem recebidas”, indicou, observando que quando um casal se aproxima espontaneamente para pedi-la, “não se abençoa a união, mas as pessoas que a solicitaram”.
“A intenção das ‘bênçãos pastorais e espontâneas’ é mostrar concretamente a proximidade do Senhor e da Igreja a todos aqueles que, encontrando-se em diferentes situações, pedem ajuda para continuar – às vezes para começar – um caminho de fé”, assinalou.
OC/CB/PR