Francisco apela a compromisso global de cooperação para o desenvolvimento, para enfrentar causas do fenómeno
Cidade do Vaticano, 09 jan 2025 (Ecclesia) – O Papa criticou hoje, no Vaticano, os discursos que promovem a desconfiança perante os migrantes, num encontro com embaixadores dos cinco continentes.
“Com grande deceção, registo que a migração continua envolta numa escura nuvem de desconfiança, em vez de ser vista como uma fonte de desenvolvimento. As pessoas que se deslocam são consideradas apenas como um problema a gerir”, referiu o discurso dirigido aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé.
“Não podem ser assemelhadas a objetos para colocar num determinado lugar, mas têm dignidade e recursos para oferecer aos outros”, acrescentou a intervenção, lida por um colaborador da Secretaria de Estado do Vaticano, devido a uma constipação de Francisco.
A intervenção apresentada no tradicional encontro para os cumprimentos de Ano Novo, no Palácio Apostólico, apelou a “um compromisso conjunto no sentido de investir na cooperação para o desenvolvimento, a fim de ajudar a erradicar algumas das causas que levam as pessoas a emigrar”.
O Papa alertou para a “terrível” escravatura do tráfico de seres humanos, alimentada por “gente sem escrúpulos que explora a necessidade de milhares de pessoas em fuga de guerras, carestias, perseguições ou dos efeitos das alterações climáticas”.
Temos de cuidar das vítimas deste tráfico, que são os próprios migrantes, forçados a percorrer a pé milhares de quilómetros na América Central e no deserto do Saara, ou a atravessar o Mar Mediterrâneo ou o Canal da Mancha em embarcações improvisadas e sobrelotadas, para depois serem rejeitados ou se encontrarem clandestinos numa terra estrangeira”.
O discurso defendeu a necessidade de “progressos” na abordagem de um fenómeno que exige “intervenção conjunta de todos os países, nomeadamente através da criação de percursos regulares e seguros” para os migrantes.
“Continua, portanto, a ser crucial enfrentar as causas profundas da emigração, de tal modo que deixar a própria casa para procurar outra seja uma escolha e não uma obrigação de sobrevivência”, acrescentou Francisco.
184 Estados, incluindo Portugal, têm atualmente relações diplomáticas plenas com a Santa Sé, a que se somam a União Europeia e a Ordem Soberana e Militar de Malta.
OC