Vaticano: Papa convida a deixar cair «máscaras» que geram indiferença ao sofrimento

Francisco sublinha «estilo de Deus», marcado pela «proximidade, compaixão e ternura»

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 14 fev 2021 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no Vaticano que é preciso deixar cair as “máscaras” que geram indiferença ao sofrimento, convidando os católicos a imitar a “ternura” de Deus.

“Para respeitar as regras de boa reputação e costumes sociais, muitas vezes silenciamos a dor ou usamos máscaras que a disfarçam. Para equilibrar os cálculos do nosso egoísmo ou as leis interiores dos nossos medos, não nos envolvemos muito no sofrimento dos outros”, advertiu Francisco, antes da recitação da oração do ângelus, perante centenas de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.

Desde a janela do apartamento pontifício, o Papa defendeu a necessidade de sair do “isolamento” e das lamentações, para ir ao encontro de Deus.

Comentando a passagem do Evangelho que é lida nas celebrações dominicais, em todo o mundo, Francisco sublinhou as “transgressões” do encontro de Jesus com um homem leproso – estes eram considerados impuros e, segundo as prescrições da lei judaica, deveriam permanecer fora do centro habitado.

“Neste episódio podemos ver duas transgressões que se encontram: a do leproso, que se aproxima de Jesus, porque não o podia fazer; e a de Jesus que, movido pela compaixão, se aproxima e o toca com ternura para o curar, o que não podia fazer”, precisou.

O Papa observou ainda que, para muitos, o gesto de cura de Jesus fazia dele um “transgressor”.

“Tocar com amor significa estabelecer uma relação, entrar em comunhão, envolver-se na vida do outro a ponto de compartilhar as suas feridas. Com este gesto, Jesus mostra que Deus, que não é indiferente, não se mantém a uma distância segura, pelo contrário, aproxima-se com compaixão e toca a nossa vida para curá-la, com ternura”, indicou.

Em Jesus, referiu o Papa, Deus mostra “um amor que faz ir para lá das convenções, que supera os preconceitos e o medo de se misturar com a vida do outros”.

Jesus deixa que aquele homem se aproxime, comove-se, até estende a mão para o tocar. Isto era impensável, naquele tempo”.

A intervenção sublinhou que o “estilo de Deus” se resume em três palavras: “Proximidade, compaixão, ternura”

“Deus fez-se próximo da nossa vida, tem compaixão do destino da humanidade ferida e vem quebrar todas as barreiras que nos impedem de viver uma relação com Ele”, apontou.

Francisco recordou que a cura do leproso, por Jesus, supera a visão da doença como um “castigo divino” e mostra Deus como “Pai da compaixão e do amor”.

Falando de improviso, o Papa pediu um aplauso para os sacerdotes corajosos, confessores, que têm esta atitude de “atrair as pessoas”, ajudando-as com “ternura, com compaixão”, no sacramento da Reconciliação.

“Deus é bom, Deus perdoa sempre, Deus nunca se cansa de perdoar”, declarou.

Francisco lamentou a persistência de um “preconceito social” associado a doenças ou perante pessoas consideradas “impuras”, “pecadoras”.

“Diante de tudo isso, Jesus anuncia que Deus não é uma ideia ou doutrina abstrata, mas aquele que se ‘contamina’ com a nossa humanidade ferida e não tem medo de entrar em contacto com as nossas feridas”, realçou.

No final do encontro de oração, o Papa recordou que na próxima quarta-feira, com a celebração das Cinzas, se inicia a Quaresma, o tempo de preparação para a Páscoa no calendário litúrgico da Igreja Católica.

“Será um tempo favorável para dar um sentido de fé, de esperança, à crise que estamos a viver”, desejou.

OC

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Agência ECCLESIA

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