Vaticano: Papa confessa «surpresa» perante oferta de crucifixo em forma de foice e martelo

Francisco rejeita ter ficado «ofendido» com o presente de Evo Morales e sublinha importância da «hermenêutica» para entender o passado

Cidade do Vaticano, 13 jul 2015 (Ecclesia) – O Papa confessou hoje a sua “surpresa” ao receber o crucifixo em forma de foice e martelo que o presidente da Bolívia lhe ofereceu na quarta-feira, ao chegar ao país, mas disse não ter ficado “ofendido”.

“Vi e para mim foi uma surpresa. Podemos qualificá-lo como arte de protesto”, precisou, em declarações aos jornalistas no voo de regresso a Roma, desde o Paraguai, após encerrar uma viagem de oito dias à América Latina.

Neste contexto, sublinhou que nalguns casos essa arte de protesto pode ser “ofensiva”.

“Para mim não foi uma ofensa”, assinalou a respeito da obra que o Papa recebeu em La Paz, originalmente desenhada pelo jesuíta Luis Espinal (1932-1980), assassinado no contexto da ditadura boliviana.

Francisco recordou que este era um tempo em que a chamada ‘Teologia da Libertação’ tinha vários filões, incluindo uma “análise marxista da realidade”, a que o padre Espinal aderia.

“Isso sim, sabia, porque nessa altura era reitor da Faculdade de Teologia e falava-se muito disto, dos vários filões e dos que estavam representados neles. No mesmo ano (do assassinato, 1980), o padre geral da Companhia de Jesus, padre Arrupe, escreveu uma carta a toda a companhia sobre a análise marxista da realidade na Teologia, travando isto, a dizer: não está bem, são coisas diferentes”, declarou.

Em 1984 a Congregação para a Doutrina da Fé publicou a “primeira declaração” sobre a Teologia da Libertação, que repete estas críticas.

“Depois veio a segunda (1986), que abre as perspetivas mais cristãs”, acrescentou o Papa, pedindo uma “hermenêutica” desta época.

Segundo Francisco, “Espinal é um entusiasta desta análise marxista da realidade mas também da Teologia usando o marxismo” e “daí veio esta obra [oferecida por Evo Morales]”.

“Tive de fazer esta hermenêutica e digo-a a vós para que não haja opiniões erradas”, realçou.

Em resposta a uma pergunta da jornalista portuguesa Aura Miguel, o Papa disse que levava este objeto consigo, ao contrário das condecorações que o presidente da Bolívia lhe ofereceu, que deixou aos pés da imagem da Virgem de Copacabana, padroeira deste país.

Francisco brincou depois com outra questão sobre a energia que demonstrou durante a viagem, afirmando que o mate o ajuda mas que não “provou a coca”, ao contrário do que tinha sido noticiado antes da sua visita.

OC

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Agência ECCLESIA

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