«Peregrinações não são feitas para encontrar-se com os alegados videntes, mas para ter um encontro com Maria, Rainha da Paz», destaca nota divulgada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé
Cidade do Vaticano, 19 set 2024 (Ecclesia) – O Vaticano divulgou hoje uma nota que autoriza o culto público no santuário mariano de Medjugorje, Bósnia-Herzegovina, com aprovação do Papa Francisco, após décadas de estudo.
“O documento do Dicastério para a Doutrina da Fé aprovado por Francisco não se pronuncia sobre a sobrenaturalidade, mas reconhece os abundantes frutos espirituais ligados à paróquia-santuário da Rainha da Paz e formula um juízo geral positivo sobre as mensagens, embora com alguns esclarecimentos”, precisa uma nota da sala de imprensa da Santa Sé, enviada à Agência ECCLESIA.
O cardeal Víctor Manuel Fernández e monsenhor Armando Matteo, respetivamente prefeito e secretário da seção doutrinal do Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé) assinam a nota ‘A Raina da Paz’, sobre a experiência espiritual ligada a Medjugorje.
“É chegado o momento de concluir uma longa e complexa história em torno aos fenómenos espirituais de Medjugorje. Trata-se de uma história em que se sucederam opiniões divergentes de bispos, teólogos, comissões e analistas”, assinala o texto, aprovado pelo Papa Francisco a 28 de agosto.
A nota reconhece que foram “verificados muitos frutos positivos” ligados à experiência de Medjugorje, autorizando os fiéis a aderir à mesma, de acordo com as novas normas para avaliar alegadas aparições e fenómenos sobrenaturais, publicadas em maio pela Santa Sé.
O ‘nihil obstat’ (nada obsta), máximo reconhecimento previsto nos critérios, implica que “mesmo sem exprimir nenhuma certeza sobre a autenticidade sobrenatural do fenómeno, se reconhecem muitos sinais de uma ação do Espírito Santo ‘no meio’ de uma dada experiência espiritual, não tendo sido relevados, pelo menos até aquele momento, aspetos particularmente críticos ou arriscados”.
Nesse sentido, sem implicar “uma declaração do caráter sobrenatural”, o ‘nihil obstat’ emitido pelo bispo de Mostar-Duvno, em acordo com a Santa Sé, indica que os peregrinos podem “receber um estímulo positivo para sua vida cristã através desta proposta espiritual e autoriza o culto público”.
Medjugorje é um ponto de peregrinação para muitos católicos, desde a divulgação dos relatos de aparições da Virgem Maria a seis crianças, em 1981, na antiga Jugoslávia.
A nota da Doutrina da Fé, refere ainda o Vaticano, não implica “um juízo acerca da vida moral dos alegados videntes”, convidando aqueles que vão a Medjugorje “a aceitar que as peregrinações não são feitas para encontrar-se com os alegados videntes, mas para ter um encontro com Maria, Rainha da Paz”.
“A avaliação positiva da maior parte das mensagens de Medjugorje como textos edificantes não implica declarar que tenham uma direta origem sobrenatural”, insiste o texto.
A diferença de opiniões sobre “a autenticidade de alguns fatos ou sobre alguns aspetos desta experiência espiritual” é assumida, convidando-se as autoridades eclesiásticas a “apreciar o valor pastoral e a promover a difusão desta proposta espiritual”.
O Vaticano recorda que cada bispo pode tomar decisões preventivas quando existam pessoas ou grupos que “utilizando inadequadamente este fenómeno espiritual, atuem de modo errado”.
Apontando a relatos de “numerosíssimas curas”, Medjugorje é valorizada ainda como lugar de oração e de obras de caridade, com uma mensagem de paz, particularmente relevante “no contexto ecuménico e inter-religioso da Bósnia-Herzegóvina, marcado por uma terrível guerra”.
A nota valoriza também a “insistente exortação a não subestimar a gravidade do mal e do pecado e a tomar muito a sério o chamamento de Deus para lutar contra o mal e contra a influência de Satanás”.
A Santa Sé indica como problemáticas, no entanto, mensagens que atribuem à Virgem Maria expressões como “o meu plano”, “o meu projeto”, considerando que as mesmas podem “confundir”, ao “atribuir a Maria um lugar que é único e exclusivo do Filho de Deus feito homem”.
Falando aos jornalistas, o cardeal Víctor Manuel Fernández precisou que “mais do que uma conclusão sobre a origem sobrenatural, analisa-se o fenómeno que é possível constatar hoje”, para chegar a uma “conclusão pastoral”.
Quanto a eventuais mensagens, as mesmas “devem ser avaliadas e aprovadas, para publicação”, pelo que não devem ser consideradas como “textos edificantes”, antes da referida aprovação.
Em editorial, que acompanha a publicação dos documentos, os serviços de informação do Vaticano sublinham que “a mensagem autêntica de Medjugorje está naquelas mensagens em que Nossa Senhora se relativiza e convida a não ir atrás de falsos profetas, a não buscar com curiosidade notícias sobre ‘segredos’ e previsões apocalípticas”.
O Papa Francisco falou sobre Medjugorje após a sua visita a Fátima, em maio de 2017, considerando que é preciso distinguir “as primeiras aparições” às crianças e as “alegadas aparições atuais”.
OC
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