Homilia conclusiva do Jubileu das Equipas Sinodais deixa convite a fazer das comunidades católicas um «lugar acolhedor para todos»



Cidade do Vaticano, 26 out 2025 (Ecclesia) – O Papa assumiu hoje a existência de “tensões”, após o processo sinodal dos últimos anos, pedindo a superação das divisões e a promoção de uma Igreja de “comunhão”, próxima de cada pessoa e centrada no serviço.
“Essa atitude ajudar-nos-á a viver com confiança e com um novo ânimo as tensões que atravessam a vida da Igreja – entre unidade e diversidade, tradição e novidade, autoridade e participação -, deixando que o Espírito as transforme, para que não se tornem oposições ideológicas e polarizações prejudiciais”, referiu Leão XIV, na homilia conclusiva do Jubileu das Equipas Sinodais, na Basílica de São Pedro.
O Vaticano acolheu, desde sexta-feira, 2 mil pessoas dos cinco continentes, para o Jubileu das Equipas Sinodais, um ano depois do final da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo.
“Ninguém deve impor as próprias ideias, todos devemos ouvir-nos reciprocamente. Ninguém está excluído, todos somos chamados a participar; ninguém possui toda a verdade, todos devemos procurá-la juntos e humildemente”, apelou o Papa.
Leão XIV destacou que a Igreja é mais do que uma “simples instituição religiosa”, com hierarquias e suas estruturas próprias, apresentando-a como “sinal visível da união entre Deus e a humanidade”.
Devemos sonhar e construir uma Igreja humilde. Uma Igreja que não se mantém de pé como o fariseu, triunfante e cheia de si mesma, mas que se abaixa para lavar os pés da humanidade; uma Igreja que não julga como o fariseu faz com o publicano, mas que se torna um lugar acolhedor para todos e para cada um; uma Igreja que não se fecha em si mesma, mas permanece à escuta de Deus para poder, da mesma forma, ouvir todos.”
Perante responsáveis dos cinco continentes, o pontífice realçou que as equipas sinodais representam uma Igreja “onde as relações não respondem à lógica do poder, mas à do amor”, convidando-as a “ampliar o espaço eclesial para que se torne colegial e acolhedor”.
A delegação portuguesa neste evento jubilar contou com 27 pessoas, nomeadamente os membros da equipa sinodal da Conferência Episcopal e representantes de nove dioceses: Angra, Aveiro, Beja, Évora, Funchal, Leiria-Fátima, Lisboa, Setúbal e Viseu.
O Papa alertou, na sua homilia, para as atitudes de superioridade e exclusão que Jesus questionou nas instituições religiosas do seu tempo.
“O mesmo também pode ocorrer na comunidade cristã. Acontece quando o ‘eu’ prevalece sobre o ‘nós’, gerando personalismos que impedem relações autênticas e fraternas; quando a pretensão de ser melhor do que os outros, como faz o fariseu com o publicano, cria divisão e transforma a comunidade num lugar de julgamento e exclusão; quando se aproveita da própria função para exercer poder e ocupar espaços”, advertiu.
Comprometamo-nos a construir uma Igreja totalmente sinodal, totalmente ministerial, totalmente atraída por Cristo e, portanto, voltada para o serviço ao mundo.”
A homilia encerrou-se com uma citação do bispo italiano Tonino Bello, falecido em 1993, cujo processo de canonização está em curso, em oração dirigida à Virgem Maria: “Apaga os focos de facções, reconcilia as disputas mútuas, atenua as rivalidades, impede-as quando decidirem seguir por sua própria conta, negligenciando a convergência em projetos comuns”.
“Que o Senhor nos conceda esta graça: estar enraizados no amor de Deus para vivermos em comunhão uns com os outros. E sermos, como Igreja, testemunhas de unidade e amor”, concluiu.
A última Assembleia Geral do Sínodo, cuja segunda sessão decorreu de 2 a 27 de outubro de 2024, teve como tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’; o processo começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021, e a primeira sessão sinodal decorreu em outubro de 2023.
Francisco promulgou o documento final e enviou-o às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio’ (2018), tendo ainda convocado uma inédita Assembleia Eclesial, para 2028.
OC
