Constituição Apostólica «Veritatis Gaudium» sublinha aposta na ecologia e no diálogo inter-religioso
Cidade do Vaticano, 29 jan 2018 (Ecclesia) – O Vaticano divulgou hoje a constituição apostólica ‘A alegria da verdade’ (Veritatis Gaudium), do Papa Francisco, que apresenta uma nova visão para as universidades e faculdades eclesiásticas, perante a globalização e a necessidade de uma Igreja “em saída”.
“Torna-se indispensável a criação de novos e qualificados centros de investigação onde possam interagir, com liberdade responsável e transparência mútua, estudiosos provenientes dos vários universos religiosos e das diferentes competências científicas, de modo a estabelecerem diálogo entre si, visando o cuidado da natureza, a defesa dos pobres, a construção duma rede de respeito e de fraternidade”, defende.
O pontífice apela a uma “mudança radical de paradigma”, uma “corajosa revolução cultural”, que exige a “renovação do sistema dos estudos eclesiásticos”.
“Efetivamente, estes [estudos eclesiásticos] não são chamados apenas a oferecer lugares e percursos de formação qualificada dos presbíteros, das pessoas de vida consagrada e dos leigos comprometidos, mas constituem também uma espécie de providencial laboratório cultural”, precisa Francisco, no proémio da Constituição Apostólica.
O Papa liga o trabalho das instituições de ensino católicas à “missão evangelizadora da Igreja”, na promoção do “crescimento autêntico e integral da família humana”.
“O que o Evangelho e a doutrina da Igreja estão atualmente chamados a promover, em generosa e franca sinergia com todas as instâncias positivas que fermentam o crescimento da consciência humana universal, é uma autêntica cultura do encontro”, escreve.
O novo documento atualiza as orientações da Constituição Apostólica ‘Sapientia christiana’, promulgada por São João Paulo II em abril de 1979, face às mudanças socioculturais e aos compromissos internacionais assumidos pela Santa Sé no campo da educação.
O atual pontífice convida a “superar o divórcio entre teologia e pastoral, entre fé e vida”, evocando o ensinamento de vários dos seus predecessores sobre o diálogo fé-razão e a necessidade de “inculturação” da proposta católica.
Francisco elogia ainda o “perseverante compromisso de mediação cultural e social do Evangelho” feito em todo o mundo e em diálogo com as várias culturas.
A Constituição Apostólica assinala a importância da dimensão espiritual neste campo e de ouvir “o clamor dos pobres e da terra” para tornar concreta a “dimensão social da evangelização” como parte integrante da missão da Igreja.
O Papa retoma as suas preocupações ecológicas para apelar a uma cultura cristãmente inspirada que seja capaz de “descobrir em toda a criação a marca trinitária”, propiciando “uma espiritualidade da solidariedade global que brota do mistério da Trindade”.
Francisco quer que as várias universidades e faculdades eclesiásticas sejam capazes de “repensar e atualizar a intencionalidade e a disposição orgânica das disciplinas e dos ensinamentos” dos seus planos de estudo, numa interdisciplinaridade e transdisciplinaridade “exercidas com sabedoria e criatividade”.
A ‘Veritatis Gaudium’ sublinha a importância do trabalho em rede e desafia os teólogos a “elaborar instrumentos intelectuais” novos num mundo marcado pelo “pluralismo ético-religioso”.
“Isto requer não só uma profunda consciência teológica, mas também a capacidade de conceber, desenhar e realizar sistemas de representação da religião cristã capazes de penetrar profundamente em sistemas culturais diferentes”, precisa.
O documento foi apesentado em conferência de imprensa, no Vaticano.
OC