Vaticano: Papa apela à «coragem» da negociação para travar guerras na Ucrânia e na Terra Santa

Sala de imprensa da Santa Sé publicou transcrição integral de entrevista à Rádio Televisão Suíça, respondendo a polémicas

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 10 mar 2024 (Ecclesia) – O Papa apelou, numa entrevista à Rádio Televisão Suíça (RSI), à “coragem” de negociar soluções de paz para a Ucrânia e a Terra Santa.

“Negociação nunca é rendição. É a coragem de não levar o país ao suicídio”, precisa Francisco, em declarações antecipadas pelo RSI.

A sala de imprensa da Santa Sé decidiu tornar pública a transcrição total da conversa, que vai ser emitida a 20 de março, e apresentou um esclarecimento público, através do seu diretor, Matteo Bruni, a respeito de uma passagem em que se fala da “coragem da bandeira branca, para negociar”.

“O Papa retoma a imagem da bandeira branca, proposta pelo entrevistador, para indicar a cessação das hostilidades, a trégua alcançada com a coragem da negociação. O seu desejo é o de uma solução diplomática para uma paz justa e duradoura”, precisa o porta-voz do Vaticano.

Francisco mostra-se disponível para mediar soluções de paz, se tal for considerado oportuno.

“Estou aqui, ponto. Enviei uma carta aos judeus de Israel, para refletir sobre essa situação. Negociação nunca é rendição. É a coragem de não levar o país ao suicídio. Os ucranianos, com a história que têm, coitados, os ucranianos na época de Estaline, o quanto sofreram”, refere o Papa.

O entrevistador insiste sobre a imagem, falando num “branco da coragem”.

“Está bem, é o branco da coragem. Mas às vezes a ira que leva à coragem não é branca”, responde Francisco.

O Papa observa que é necessário procurar “algum país” para mediar a guerra na Ucrânia, dando como exemplo a Turquia.

“Não tenham vergonha de negociar, antes que a situação piore”, pede.

A palavra negociar é uma palavra corajosa. Quando alguém vê que está derrotado, que as coisas não estão a ir bem, precisa de ter a coragem de negociar. Pode ter vergonha, mas com quantas mortes é que isso vai acabar? Negociar a tempo”.

Sobre o conflito entre Israel e o Hamas, Francisco começa por revelar que liga para a Paróquia de Gaza “todos os dias, às sete horas da noite”.

“Seiscentas pessoas vivem lá e contam o que estão a ver: é uma guerra. E a guerra é travada por dois, não por um. Os irresponsáveis são esses dois que fazem a guerra. E não há apenas a guerra militar, há a guerra de guerrilha, digamos assim, do Hamas, por exemplo, um movimento que não é um exército. É uma coisa má”, assume.

“A guerra é uma loucura, é uma loucura”, insiste.

A entrevista a Lorenzo Buccella, jornalista da RSI, vai ser publicada na revista cultural “Cliché”, numa edição dedicada ao “branco”.

O Papa condena a opção pela guerra e sublinha os seus efeitos nas novas gerações.

“As crianças ucranianas costumam vir aqui para me cumprimentar, pois vieram da guerra. Nenhuma delas sorri, elas não sabem como sorrir. Uma criança que não sabe sorrir parece não ter futuro. Pensemos sobre essas coisas, por favor. A guerra é sempre uma derrota, uma derrota humana, não geográfica”, declara.

OC

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Agência ECCLESIA

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