Francisco destaca figura que «conduziu a Barca de Pedro num dos momentos mais tristes e sombrios do séc. XX» na audiência aos colaboradores do Arquivo Secreto do Vaticano liderada por D. José Tolentino Mendonça
Cidade do Vaticano, 04 mar 2019 (Ecclesia) – O Papa anunciou hoje a decisão de proceder à abertura em 2020 dos arquivos relacionados com o pontificado do Papa Pio XII, durante uma audiência com responsáveis e funcionários do chamado Arquivo Secreto do Vaticano.
De acordo com o discurso de Francisco, publicado pela sala de imprensa da Santa Sé, o arquivo do Vaticano relacionado com o Papa Pio XII (1876 – 1958) vai ser aberto aos investigadores no dia 2 de março de 2020, data em que será assinalado o octagésimo aniversário da eleição papal de Eugenio Pacelli.
O Papa argentino, que foi acolhido pelo arcebispo português D. José Tolentino de Mendonça, bibliotecário e arquivista da Santa Sé, destacou uma figura que “conduziu a Barca de Pedro num dos momentos mais tristes e sombrios do séc. XX”, marcado pela destruição da Segunda Guerra Mundial e pelo “período consequente de reorganização das Nações e a reconstrução pós-bélica”.
Francisco lembrou o Papa Pio XII também como um homem cuja ação foi “questionada e estudada em vários aspetos, por vezes até colocada em discussão e mesmo criticada, não sem alguns preconceitos e exageros”.
“A Igreja não tem medo da história, aliás, a ama e quer amá-la mais e melhor”, frisou esta segunda-feira o Papa, que realçou Eugenio Pacelli como um pontífice que deixou sobretudo como legado as suas grandes “qualidades pastorais, teológicas, e também diplomáticas”.
O Papa Pio XII, declarado “venerável” por Bento XVI em 2009, o primeiro passo rumo à beatificação, é recordado pela Igreja Católica pela sua ação em defesa dos judeus durante a II Guerra Mundial (1939-1945).
No Natal de 1942, Pio XII deixou uma mensagem forte contra o conflito, difundida através da rádio, em que alertava para a situação de “centenas de milhares de pessoas que sem culpa nenhuma, às vezes só por motivos de nacionalidade ou raça, se viram destinadas à morte ou a um extermínio progressivo”.
No entanto, a ação do pontífice e da Igreja Católica relativamente ao conflito foi marcada por críticas, já que nem todos consideraram que ela fez tudo o que estava ao seu alcance para travar o avançar do conflito nem as suas consequências.
Recorde-se que só em 2012, o memorial ‘Yad Vashem de Jerusalém’, que evoca as vítimas do Holocausto durante a II Guerra Mundial, modificou um texto que acusava o Papa Pio XII de não ter feito o suficiente pelos judeus.
O Papa espera que a abertura dos arquivos da Santa Sé relacionados com o pontificado de Pio XII ajude “a avaliar na justa luz, com crítica apropriada”, os “momentos de exaltação daquele pontífice” e também as ocasiões de “grave dificuldade, de decisões difíceis, de humana e cristã prudência”.
Situações que “a alguém poderá parecer reticência, e que ao invés foram tentativas, humanamente também muito difíceis, para manter acesa, nos períodos mais sombrios e de crueldade, a chama das iniciativas humanitárias, da silenciosa, mas ativa diplomacia, da esperança em possíveis boas aberturas dos corações”, considerou o Papa Francisco.
Desde 2006, por iniciativa de Bento XVI, que a Santa Sé está a trabalhar num projeto de recolha e inventariação de toda a documentação produzida durante o pontificado de Pio XII, parte da qual já tinha sido declarada como consultável pelos Papas Paulo VI e João Paulo II.
O Papa Pio XII foi ainda o primeiro pontífice a ser chamado “Papa de Fátima”, tendo consagrado a dimensão universal da mensagem transmitida na Cova da Iria, em 1917.
Em 1940, o Papa Pio XII referiu-se a Fátima pela primeira vez num texto pontifício oficial, a encíclica ‘Saeculo exeunte octavo’, escrita para exortar a Igreja em Portugal a aumentar a sua atividade missionária.
A primeira posição oficial pública do Vaticano sobre Fátima acontece com Pio XII, em 31 de outubro de 1942, 25 anos depois das aparições: nessa data, em plena II Guerra Mundial, o Papa consagra o mundo ao Imaculado Coração de Maria.
Quatro anos depois, em 13 de maio de 1946, Pio XII enviou o cardeal Aloisi Masella a Fátima para coroar a imagem de Nossa Senhora.
As ligações a Fátima não terminam por aqui, já que Eugenio Maria Giuseppe Pacelli foi ordenado bispo pelo Papa Bento XV na Capela Sistina, a 13 de Maio de 1917, dia da primeira aparição da Virgem em Fátima.
JCP