Francisco critica investimentos em armamento e diz que vítimas civis «não são danos colaterais»
Cidade do Vaticano, 08 jan 2024 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje para os riscos de um novo “conflito global”, criticando o impacto dos conflitos armados sobre as populações civis.
“Num contexto em que parece já não ser observada a distinção entre objetivos militares e civis, não há conflito que não acabe de alguma forma por atingir indiscriminadamente a população civil. Prova evidente disto mesmo são os acontecimentos na Ucrânia e em Gaza”, referiu, no encontro de Ano Novo com os membros do corpo diplomático acreditados junto da Santa Sé.
“As vítimas civis não são danos colaterais. São homens e mulheres com nomes e apelidos que perdem a vida. São crianças que ficam órfãs e privadas do futuro”, acrescentou.
Num discurso com cerca de 40 minutos, Francisco denunciou as violações do direito internacional humanitário como “crimes de guerra”.
“Há necessidade dum maior empenho da comunidade internacional pela salvaguarda e implementação do direito humanitário, que parece ser o único caminho para a tutela da dignidade humana em situações de conflito bélico”, indicou.
O Papa sustentou que a paz “está cada vez mais ameaçada, fragilizada e, em parte, perdida”, lamentando que as lições da II Guerra Mundial (1939-1945) se estejam a esquecer.
“O mundo é atravessado por um número crescente de conflitos que estão, lentamente, a transformar aquela que tenho repetidamente definido como terceira guerra mundial aos pedaços num verdadeiro conflito global”, observou.
Francisco lamentou que se viva, hoje, num mundo onde as guerras continuam, devido à “enorme disponibilidade de armas”.
“As armas criam desconfiança e desviam recursos. Quantas vidas se poderiam salvar com os recursos atualmente destinados aos armamentos? Não seria melhor investi-los em favor duma verdadeira segurança global?”, questionou.
Reafirmo aqui a proposta de constituir um Fundo mundial para eliminar finalmente a fome e promover um desenvolvimento sustentável de todo o planeta”.
O discurso manifestou preocupações com os arsenais nucleares, apelando ao regresso das negociações para o acordo nuclear com o Irão, visando “garantir a todos um futuro mais seguro”.
O diálogo, precisou o Papa, “deve ser a alma da comunidade internacional”.
184 Estados mantêm relações diplomáticas plenas com a Santa Sé, a que se somam a União Europeia e a Ordem Soberana e Militar de Malta; existem 91 missões diplomáticas acreditadas junto da Santa Sé com sede em Roma, incluindo a de Portugal, bem como os gabinetes da Liga dos Estados Árabes, da Organização Internacional para as Migrações e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
OC
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